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domingo, 21 de junho de 2009

FORMAÇÃO: A SANTA MISSA

Coloco aqui a disposição de todos uma série de formações sobre a Santa Missa. Espero que seja útil para que melhor possamos vivenciar este sumo misterio da nossa fé. A todos um fraterno abraço.Nos encontraremos na Eucaristia....

O SANTO SACRIFICIO DA MISSA


PADRE MARTINHO DE COCHEM

(1630-1712)


Neste mês apresentarei a obra do reverendíssimo Padre Martinho Cochem. trata-se de um livro que fala sobre a Santa Missa. Nestes tempos em que a fé e a devoção eucarísticas são tão dissimuladas e esquecidas é necessário recorrermos à leituras de boas e sã obras a respeito do mistério e veracidade da Santíssima Eucaristia.


Advertimos que esta obra do Padre Martinho foi recolhida da internet1 e o título original é desconhecido por nós, por isso adotamos como título o seguinte: O Santo Sacrifício da Santa Missa.


Antes de irmos ao livro vamos conhecer um pouco a vida do autor.

O ano do nascimento de Martinho é 1625 ou, como querem outros, em 1630, na época em que os terrores da célebre guerra dos Trinta Anos assolava a Alemanha. Cochem é o nome duma pequena cidade, situada nas belas margens do Mosela onde, pouco tempo antes do nascimento de Martinho, os Frades Menores Capuchinhos haviam construído um convento de sua Ordem.


Assim foi que o jovem, desde criança, estimava e amava os bons religiosos, de sorte que, tendo o consentimento de sua família, pediu-lhes o hábito de São Francisco.


Feito capuchinho, distinguiu-se pela extraordinária piedade e também pelo brilhante resultado de seus estudos, de maneira que lhe foi confiada a cadeira de teologia na Ordem.


Por muitos anos, instruiu Martinho os seus jovens irmãos de hábito nos segredos da ciência sagrada, até que, em 1666, o terrível espantalho da peste estendeu suas asas negras sobre a Alemanha, vitimando milhares de pessoas, especialmente nas vizinhanças do Reno. Cheios de zelo pela salvação das almas, os padres capuchinhos saíram da solidão do convento para dedicar-se ao tratamento dos doentes, e muitos desses santos homens deixaram a vida, mártires da caridade.


A escola, onde lecionava Frei Martinho, foi dissolvida, sendo os noviços, seus discípulos, enviados para suas casas.


Martinho aproveitou estas férias inesperadas e forçadas para escrever um catecismo popular, no intuito de instruir o povo católico nos princípios da religião. E com tanta felicidade saiu-se desta incumbência, que os Superiores lhe mandaram renunciar definitivamente ao magistério e ocupar-se em editar livros e escritos religiosos que estivessem ao alcance de todos. Conhecendo nesta ordem à vontade de Deus, Frei Martinho dedicava-se, com grande zelo, aos trabalhos da pena, editando numerosas obras, vivas testemunhas de que o seu autor tinha profundo conhecimento das necessidades religiosas de seu tempo, assim como do modo prático de remediá-las.


Seus escritos salientam-se pela linguagem simples e ingênua, pelo jeito admirável de falar ao coração humano, como também pela vivacidade e clareza do estilo.


Não podia deixar de suceder que o nome do Padre Martinho se tornasse célebre e atraísse a atenção dos altos príncipes da Igreja. Com razão calculavam que o homem que, em seus escritos, sabia, de modo tão insistente e enérgico, propor ao povo o poder e a verdade da religião, ainda mais conseguiria pela força da palavra, ensinando e iluminando o mundo pela luz de suas acrisoladas virtudes. Eis o motivo por que os Arcebispos de Mogúncia e Treveris o encarregaram de pregar missões e de realizar a visita canônica em quase todas as freguesias de suas dioceses.


Obediente às ordens dos Superiores e pronto a sacrificar-se pela salvação das almas, ia instruir o povo nas verdades de nossa santa religião, procurando transmitir, com especialidade, a seus inúmeros ouvintes, pelo menos uma faísca daquela devoção ao Santíssimo Sacramento que lhe abrasava o coração, e inspirando-lhes o desejo ardente de assistir, com regularidade e devoção, ao Santo Sacrifício da Missa, plenamente convictos de que o que se passa sobre o altar, não é senão a atualização incruenta da morte do Salvador.


Assim trabalhou incessantemente e sem cessar, até que, em idade avançada, foi chamado pelo Retribuidor do Bem, falecendo aos 10 de Setembro do ano de 1712.

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CAPÍTULO I
DA ESSÊNCIA DO SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA



Na língua sagrada de nossa mãe, a Santa Igreja católica, no latim, a Santa Missa é designada pelo nome de "sacrificium", sacrifício.
"Um sacrifício é um dom visível, oferecido, exclusivamente, a Deus, por um ministro sagrado, para reconhecer a soberania do Altíssimo sobre todas as coisas".
O sacrifício, portanto, é um culto devido, exclusiva e unicamente, a Deus. A nenhuma criatura, por mais elevada que seja, compete jamais um sacrifício.
Diz Santo Agostinho: "Quem pensaria jamais, que se pudesse oferecer sacrifício, senão ao Deus único e verdadeiro?"
Somente à idolatria insana dos Imperadores romanos ficou reservada a presunção sacrílega de exigir, dos súditos desditosos, sacrifícios de diversas formas.
Indagando a origem do sacrifício, que encontramos entre os povos, sem exceção devemos confessar, com S. Tomás de Aquino, que é uma lei natural oferecer sacrifícios a Deus, e, por este motivo, é que o homem se sente levado a sacrificar, sem insinuação ou conselho de alguém.
Com efeito, Caim e Abel, Noé e Abraão, como outros patriarcas, profetas e reis do antigo testamento ofereceram a Deus sacrifícios espontaneamente.
Porém não só os que conservaram a fé no Deus verdadeiro, mas também os povos que apostataram desta fé, os pobres pagãos, ofereceram sacrifícios a seus ídolos. Pois, o sacrifício, como a religião, da qual é a mais elevada manifestação, é, realmente, uma necessidade da natureza humana, e, por isso, encontramo-lo entre todos os povos de todos os tempos.
Por conveniência imperiosa, Jesus Cristo cuidou de deixar na sua religião, divinamente perfeita, uma forma de sacrifício, como jamais houve entre povo algum; e essa forma de sacrifício é a Santa Missa.
A respeito, ensina o Santo Concílio de Trento: "Segundo o testemunho de S. Paulo Apóstolo, o sacerdócio levítico do antigo testamento não atingiu a perfeição. Assim, desde a origem do mundo, o Deus da Misericórdia determinara, que surgisse um sacerdote podendo aperfeiçoar e completar o sacrifício. Esse sacerdote era Jesus Cristo, Nosso Senhor que, depois de se ter oferecido a seu Pai sobre o altar da cruz, não queria deixar extinto o seu sacrifício, e, na véspera de sua morte, deu a sua esposa mística estremecida, a Santa Igreja, um sacrifício visível, segundo as exigências da natureza humana."
Este sacrifício devia perpetuar o Sacrifício cruento que Jesus Cristo ia oferecer sobre a Cruz; devia perpetuar-lhe a memória até o fim dos tempos e, por sua virtude salutar, nossos pecados quotidianos deviam ser perdoados. Deste modo, Jesus Cristo declarou-se sacerdote segundo a ordem de Melquisedec, oferecendo a seu eterno Pai seu Corpo e seu Sangue, sob as aparências de pão e vinho, que deu a seus apóstolos também sob as mesmas espécies, instituindo-os sacerdotes do novo Testamento. E, dizendo as palavras: "Fazei isto em memória de mim", ordenou-lhes e aos seus sucessores no sacerdócio, que os oferecessem em sacrifício.
A Santa Igreja nos ensina que, na última Ceia, Jesus Cristo não só mudou o pão e o vinho em seu Corpo e em seu Sangue, mas também ofereceu-os a Deus, seu Pai, e instituiu e ofereceu pessoalmente o Sacrifício do novo Testamento, a fim de que se reconhecesse, nele, este sacerdote de que canta o salmista: "O Senhor jurou e não se arrependerá de seu juramento. És sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedec" (Sl. 109, 4). Muito contrário ao costume de sua época, Melquisedec não imolava animais como faziam Abraão e outros patriarcas, mas, por inspiração do Espírito Santo, levantava o pão e o vinho para o céu e oferecia-os por meio de cerimônias e orações especiais. Assim tornou-se a figura de Jesus Cristo, e seu Sacrifício é o símbolo da nova Lei. Como tudo que se relaciona com a pessoa do salvador foi objeto de admiráveis profecias, desde os dias do paraíso até os últimos tempos do antigo testamento, também o sacrifício que havia de coroar e perpetuar a obra redentora na cruz, foi predito séculos antes. Escreve o profeta Malaquias: "Minha afeição não está mais em vós, diz o Senhor dos exércitos, e nunca mais receberei ofertas de vossas mãos, porque, desde o oriente até o ocidente, meu nome é grande entre as nações e, em toda parte, se sacrifica e oferece uma oblação pura".
Esta profecia não se realizou no antigo testamento, como se vê no próprio texto, pois o próprio Deus declara rejeitar os antigos sacrifícios.
Tão pouco a profecia se refere ao sacrifício da cruz, porque esse sacrifício foi oferecido somente uma vez e em um lugar.
É de um sacrifício novo e puro em que Deus tem as complacências, que o profeta fala. Esse sacrifício, infinitamente puro, não pode ser outro senão o sacrifício da Missa. Desde o momento de sua instituição no cenáculo, crêem e confessam isto os apóstolos, os evangelistas, todos os primeiros cristãos, e assim ainda crê e confessa a Igreja católica universalmente, tanto quanto as igrejas cismáticas orientais.
De acordo com o evangelista S. Lucas, a Santa Igreja ensina: "Na véspera de sua morte, Jesus Cristo tomou o pão e, rendendo graças a Deus, partiu-o e deu aos discípulos, dizendo: "Isto é o meu Corpo que será entregue por vós; fazei isto em memória de mim". Da mesma forma, tomou o cálice depois da ceia, dizendo: "Este cálice é o novo Testamento em meu Sangue, que será derramado por vós." (Lc. 22, 19-29).
Ponderemos bem o que diz e faz o Senhor: Muda o pão em seu Corpo, e o vinho em seu Sangue; e por esta separação mística de seu Corpo e de seu Sangue, constituiu-se em holocausto. As palavras que acompanham a transubstanciação, indicam o sacrifício. "Isto é o meu Corpo, que será entregue por vós, isto é o meu Sangue, que será derramado por vós". Ainda que se quisesse aplicar estas duas palavras "entregar" e "derramar" ao Sacrifício da Cruz, Jesus Cristo afirma, claramente, que estas duas ações se realizam na Ceia, e assim afirma também que houve aí sacrifício.
Se os adversários pretendem desvalorizar este ensino de nossa Santa Igreja, dando outras explicações torcidas e infundadas, como é que explicarão as palavras claras de S. Paulo Apóstolo, quando escreve aos Hebreus:
"Temos um altar, e uma vítima da qual os que prestam serviços ao Tabernáculo, (isto é, os judeus) não têm o direito de comer" (Hb. 13, 10). Ora, não poderia existir altar sem oblação, e a palavra "comer" indica, claramente, que não se trata do sacrifício da Cruz, mas de um sacrifício (comestível) nutriente, tal qual Jesus Cristo o instituiu na Ceia.
Lemos também, na vida do apóstolo S. Mateus, que foi morto no altar, quando celebrava os santos mistérios. Na vida de Santo André, refere-se que ele disse ao juiz Egéias: "Ofereço em sacrifício, diariamente, a Deus Todo-Poderoso, não a carne de touros, nem o sangue dos animais, mas o Cordeiro Imaculado".
É atribuída ainda a S. Tiago e a S. Marcos uma liturgia da Santa Missa. Enfim, atribui-se também a S. Pedro o "Cânon", isto é, a parte da Santa Missa que vai do "Sanctus" até a Comunhão.
Tantos testemunhos provam que o Santo Sacrifício do novo Testamento esteve, desde o começo, em uso na Igreja.
O fato de não se encontrar a palavra "Missa" nas sagradas letras, não pode servir de argumento contra a doutrina da Igreja. A palavra "Trindade" também não se encontra; e, não obstante, os adversários aceitam-na. Mas, em 142, encontramos a palavra Missa tal qual a empregamos. O Papa Pio I faz uso da palavra de maneira que evidencia que o termo era geralmente, adotado e conhecido. Daí em diante, a palavra Missa não desaparece mais dos escritos dos santos Padres e mais escritores da Igreja católica.
A Igreja grega emprega nomes de significação idêntica. Falam, por exemplo, da mesa ou do altar do Senhor, ceia, oferta. Em vista disso, que valem os ataques dos hereges?
Os ataques violentos promovidos, em diversas épocas, contra a Santa Missa, testemunham-lhes à santidade e importância como também o ódio com que o demônio a persegue.
No curso dos dez primeiros séculos, quando numerosos hereges afligiam a Santa Igreja, nenhum deles ousou atacá-la. Era preciso, para isto, um alto grau de perversidade, uma audácia verdadeiramente infernal.
Isto só aconteceu no décimo primeiro século pelo herege Berengar de Cours. Porém, mal havia disseminado as blasfêmias, o orbe católico recuou de espanto e clamou-lhe indignado: "Tornai-vos uma pedra de escândalo para os fiéis, separai-vos de nossa Mãe, a Santa Igreja, pois perturbais a unidade dos cristãos". Berengar, depois de anatematizado por mais de cindo Concílios, por um milagre da misericórdia divina, abjurou os erros, fez penitência, e morreu em 1088, confessando a doutrina verdadeira.
Infelizmente, a heresia sobreviveu-lhe, sendo pregada, alguns anos depois, pelos albigenses, seita perversa que declarava, entre outros erros, o matrimônio como ilícito, e permitia a impureza. Em particular, atacava a Missa privada, vulgarmente chamada Missa-rezada. Aos que assistiam a essas Missas, perseguiam com penas horrorosas e, mais ainda, aos Padres que tinham a coragem de celebrar os santos mistérios.
Após os albigenses, os inimigos mais encarniçados da Santa Missa foram os reformadores do século décimo sexto. O próprio Lutero confessa, no livro "contra a missa", cap. XIX, ter sido impelido por Satanás a abolir a Santa Missa como um ato de idolatria, e que fez sabendo, perfeitamente, que o demônio odiava todo o bem e que seus ensinos eram mentirosos.
Se as trevas infernais não tivessem invadido, inteiramente, toda a inteligência de Lutero, não teria antes raciocinado assim: se Satanás considera a Santa Missa como um ato de idolatria, para que procura aboli-la, em vez de louvá-la e propagá-la, a fim de insultar mais cruelmente o Altíssimo?
Ora, Satanás privou o Santo Sacrifício da Missa a todas as seitas luteranas, causando-lhes tão profundo ódio contra este santo mistério, que vomitaram a espantosa blasfêmia: "A Missa é uma abominável idolatria... aí renuncia-se o sacrifício cruento de Cristo!" Assim se exprime o catecismo dos calvinistas de Heidelberg.
Pobres insensatos! Neste caso, como podem admitir que uma alma se tenha salvo desde Jesus Cristo? Todos os apóstolos, todos os sacerdotes têm celebrado o Santo Sacrifício da Missa, os mártires, os confessores assistiram-no com terna devoção. Acusarão todo este exército de Cristo de idolatria, e, por conseguinte, digno do inferno? O simples bom senso a isso se opõe.
Ah, mais suave é ouvir S. Fulgêncio dizer: "Creio, sem dúvida alguma, que o Filho único de Deus, feito homem por nós, ofereceu-se em sacrifício a Deus Altíssimo, a quem a Igreja católica oferece, sem cessar, na fé e na caridade, o Sacrifício do pão e do vinho".
Tomemos cuidado para não nos acontecer o que aconteceu aos hereges, a quem Satanás tirou a Santa Missa. Não podendo privar-nos inteiramente dela, esforça-se, pelo menos, para cegar-nos sobre o valor infinito do Santo Sacrifício a fim de que, apreciando-o pouco, deixemos de assisti-lo, ou não tiremos os abundantes frutos de graças que poderíamos colher.
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O QUADRÚPLICE FIM DO SANTO SACRIFICIO DA MISSA



Por Santo Afonso Maria de Ligório

1) A Santa Missa é um Sacrifício Latrêutico

[HOLOCAUSTO = sacrifício de latria = adoração a Deus]


No Antigo Testamento procuravam os homens honrar a Deus por toda a espécie de sacrifícios; no Novo Testamento, porém, presta-se maior honra a Deus com um só Sacrifício da Missa do que com todos os sacrifícios do Antigo Testamento, que eram só figuras e sombras da sagrada Eucaristia. Pela Santa Missa se presta a Deus a honra que lhe é devida, porque, por meio dela, recebe ele a mesma honra infinita que Jesus Cristo lhe prestara sacrificando-se na cruz. Uma só Missa presta a Deus maior honra que todas as orações e penitências dos Santos, todos os trabalhos dos Apóstolos, todos os sofrimentos dos mártires, todo o amor dos Serafins e mesmo da Mãe de Deus, porque todas as honras dos homens são de natureza finita, enquanto a honra que Deus recebe pelo Santo Sacrifício da Missa é infinita, visto que lhe é prestada por uma Pessoa divina.


Devemos por isso reconhecer, com o santo Concílio de Trento, que a Santa Missa é a mais santa e divina de todas as obras (Sess. 22). Nosso Senhor morreu especialmente para esse fim, para poder criar sacerdotes do Novo Testamento. Não era necessário que o Salvador morresse para remir o mundo; uma só gota de seu Sangue, uma lágrima, uma só oração teria bastado para operar a salvação de todos, porque, sendo essa oração de valor infinito, seria suficiente para remir não só o mundo, mas também mil mundos. Para criar, porém, um sacerdote, devia Jesus Cristo morrer, pois, do contrário, donde se tiraria esse Sacrifício que agora oferecem a Deus os sacerdotes do Novo Testamento, esse Santo e Imaculado Sacrifício que, por si só, basta para dar a Deus a honra que lhe é devida? Ainda que se sacrificasse a vida de todos os Anjos e Santos, mesmo assim esse sacrifício não prestaria a Deus essa honra infinita que lhe dá uma única Santa Missa.


2) A Santa Missa é um Sacrifício Propiciatório

[HÓSTIA PELO PECADO = sacrifício propiciatório = oferecido para a expiação dos pecados, de modo a tornar Deus propício]


Que a Santa Missa é verdadeiramente um Sacrifício propiciatório, que inclina Deus a nos perdoar não só a pena mas também a culpa dos pecados, pode-se deduzir já da instituição da sagrada Eucaristia, que foi feita especialmente para a remissão dos pecados: “Este é o meu sangue, que será derramado por muitos, para a remissão dos pecados”, disse Jesus Cristo (Mt 26, 28). A Santa Missa perdoa até os maiores pecados, não imediatamente, mas só mediatamente, como afirmam os teólogos, isto é, Deus, em consideração ao Sacrifício do altar, concede a graça que leva o homem a detestar seus pecados e a purificar-se deles no sacramento da penitência. Quanto às penas temporais, que devem ser expiadas depois da destruição da culpa, são elas perdoadas por virtude da Santa Missa, ao menos parcialmente, quando não de todo. Numa palavra, a Santa Missa abre os tesouros da divina misericórdia em favor dos pecadores.


Desgraçados de nós se não houvesse esse grande Sacrifício, que impede à Justiça Divina que nos envie os castigos que merecemos por nossos pecados: é certo que todos os sacrifícios do Antigo Testamento não podiam aplacar a ira de Deus contra os pecadores. Se se sacrificasse a vida de todos os homens e Anjos, a Justiça Divina não seria satisfeita devidamente nem sequer por uma única falta que a criatura tivesse cometido contra seu Criador. Só Jesus Cristo podia satisfazer por nossos pecados: “Ele é a propiciação pelos nossos pecados” (1 Jo 2, 2). Por isso o Padre Eterno enviou seu Filho ao mundo, para que se fizesse homem mortal e, pelo Sacrifício de sua vida, O reconciliasse com os pecadores. Esse Sacrifício é renovado em cada Missa. Não há dúvida: o Sangue inocente do Redentor clama muito mais fortemente por misericórdia em nosso favor que o sangue de Abel por vingança contra Caim.


Mas também pelos defuntos pode ser oferecido este Sacrifício. Por isso o Sacerdote, na Santa Missa, pede ao Senhor que se recorde de seus servos que partiram para a outra vida e dormem o sono da paz, e que lhes conceda, pelos merecimentos de Jesus Cristo, o lugar de repouso, da luz e da paz. Se o amor de Deus que possuem as almas ao sair desta vida não basta para purificá-las, essa falta fica reparada pelo fogo do Purgatório; muito melhor, porém, a repara o amor de Jesus Cristo por meio do Sacrifício Eucarístico, que traz às almas grande alívio e, muitas vezes, até a libertação completa de seus sofrimentos. O Concílio de Trento declara que as almas que sofrem no Purgatório, pela intercessão dos fiéis, mas em especial pelo Santo Sacrifício da Missa, podem ser muito auxiliadas. E acrescenta (Sess. 22, c. 2) que isso é uma tradição apostólica. Santo Agostinho exorta-nos a oferecer o Sacrifício da Santa Missa por todos os defuntos, para o caso de que não possa aproveitar às almas por quem pedimos.


3) A Santa Missa é um Sacrifício Eucarístico

[SACRIFÍCIO EUCARÍSTICO = sacrifício das hóstias pacíficas = oferecido para agradecer a Deus, qualquer graça recebida]


É justo e razoável que agradeçamos a Deus os benefícios que nos fez em sua infinita bondade. Mas que digno agradecimento podemos dar-lhe nós, miseráveis? Se Deus nos tivesse dado uma única vez um sinal de sua afeição, estaríamos obrigados a um agradecimento infinito, porque esse sinal de amor seria o favor e dom de um Deus infinito. Mas eis que o Senhor nos deu esse meio de cumprir com nossa obrigação e de agradecer-lhe na Santa Missa a Jesus Cristo. Dessa maneira dá-se a Deus o mais perfeito agradecimento e satisfação; pois, quando o Sacerdote celebra a Santa Missa, dá-lhe um digno agradecimento por todas as graças, mesmo por aquelas que foram concedidas aos Santos no Céu; tal ação de graças, porém, não podem prestar a Deus todos os Santos juntos, de maneira que também nesse respeito a dignidade sacerdotal sobrepuja todas as dignidades, não excetuadas as do Céu.


A Vítima que é oferecida ao Eterno Pai na Santa Missa é seu próprio Filho, em quem pôs toda a sua complacência. Por isso dirigia Davi suas vistas a este Sacrifício, quando excogitava [pensava] um meio de agradecer a Nosso Senhor pelas graças recebidas: “Que darei ao Senhor por tudo o que ele me tem feito?” pergunta ele, e responde: “Tomarei o cálice da salvação e invocarei o nome do Senhor” (Sl 115, 12). O próprio Jesus Cristo agradeceu a seu Pai celeste todos os benefícios que tinha feito aos homens, por meio deste Sacrifício: “E, tomando o cálice, deu graças e disse: Tomai-o e distribuí-o entre vós” (Lc 22, 17).


4) A Santa Missa é um Sacrifício Impetratório

[SACRIFÍCIO IMPETRATÓRIO = sacrifício de impetração = oferecido para pedir a Deus qualquer graça importante]


Se já temos a segura promessa de alcançar tudo que pedimos a Deus em nome de Jesus Cristo (Jo 16, 23), muito maior deve ser a nossa confiança se oferecemos a Deus seu próprio Filho. Este nosso amante Salvador roga por nós sem cessar lá no Céu (Rom 8, 34), mas, de modo todo especial, durante a Santa Missa, em que se sacrifica a seu Eterno Pai, pelas mãos do Sacerdote, para nos alcançar suas graças. Se soubéssemos que todos os Santos e a Santíssima Virgem estão rezando por nós, com que confiança não esperaríamos de Deus os maiores favores e graças. Está, porém, fora de dúvida que um só rogo de Jesus Cristo pode infinitamente mais que todas as súplicas dos Santos.


No Antigo Testamento era permitido unicamente ao sumo sacerdote, e isso uma só vez no ano, entrar no Santo dos Santos; hoje, porém, todos os Sacerdotes podem sacrificar todos os dias ao Eterno Pai o Cordeiro divino, para alcançar de Deus graças para si e para todo o povo.


O Sacerdote sobe ao altar para ser o intercessor de todos os pecadores. “Ele exerce o oficio de um medianeiro”, diz São Lourenço Justiniano (Sermo de Euchar.), “e por isso deve ser um intercessor para todos os que pecam”. “Dessa maneira”, diz São Crisóstomo, “está o Padre no altar, no meio, entre Deus e o homem; oferece a Deus as súplicas dos homens e alcança-lhes as graças de que precisam” (Hom. 5 in Jo). Deus distribui a todo o tempo, sempre que é rogado em nome de Jesus Cristo, suas graças, mas ele as distribui com mais largueza durante a Santa Missa, atendendo às súplicas do Sacerdote, diz S. Crisóstomo; pois essas súplicas são então acompanhadas e secundadas pela oração de Jesus Cristo, que é o Sacerdote principal, visto que é ele mesmo que se oferece neste Sacrifício para nos alcançar graças de seu. Eterno Pai.


Segundo o Concílio de Trento (Sess. 22, c.2), é especialmente durante a Santa Missa que o Senhor “está sentado naquele trono de graças”, ao qual devemos nos chegar, diz o Apóstolo, “para alcançar misericórdia e encontrar graças no momento oportuno” (Heb 4, 16). Até os Anjos esperam o tempo da Santa Missa, diz São Crisóstomo (Hom. 13. De incomp. Dei nat.), para pedir com mais resultado por nós, e ele acrescenta que dificilmente se alcançará aquilo que não se consegue durante a Santa Missa.


A Santíssima Virgem, depondo uma vez o Menino Jesus nos braços de São Francisca Farnese, disse-lhe: “Eis aqui o meu Filho; aprende a torná-lo favorável a ti, oferecendo-­o muitas vezes a Deus. Dize, por isso, a Deus, quando vires presente no altar o divino Cordeiro: ‘Ó Pai Eterno, ofereço-vos hoje todas as virtudes, todos os atos e todos os afetos de vosso mui amado Filho. Recebei-os por mim, e por seus merecimentos, que Ele nos deu e, por isso, são meus, dai-me as graças que Jesus Cristo pedir por mim. Ofereço-vos esses merecimentos para vos agradecer por todas as misericórdias que tendes usado comigo e para satisfazer por meus pecados. Pelos merecimentos de Jesus Cristo espero alcançar de vós todas as graças, o perdão, a perseverança, o Céu, mas especialmente o mais precioso de todos os dons, o vosso puro e santo amor.’”

SANTA MISSA: O SANTO SACRIFICIO


I – OS SACRIFÍCIOS x O SACRIFÍCIO


INTRODUÇÃO


Todas as grandes religiões giram em torno de sacrifícios. Pelos sacrifícios os diferentes povos procuram se aproximar de Deus.

A palavra sacrifício pode ter vários significados. Pela junção das duas palavras sacri + ficar significa ficar sagrado, pela etimologia da palavra latina sacre+fazere significa fazer o sagrado, ou seja, separar para Deus, segundo Santo Agostinho. O certo é que o sacrifício está presente na historia, inclusive na Historia Sagrada do Povo de Deus, de modo muito abundante.

Na lei de Moisés (cf. Êxodo) havia os seguintes sacrifícios cruentos[1]:

Holocausto – sacrifício de latria, ou seja, adoração a Deus; As vítimas eram oferecidas ao domínio de Deus. Queimava-se a vítima completamente, ninguém a comia, para prestar, por essa consumação, uma homenagem e um reconhecimento pleno, ao soberano domínio de Deus. Prestava-se, assim, o Culto puro de adoração a Deus.

Hóstia pelo pecado - sacrifício propiciatório: O sacrifício propiciatório era oferecido para a expiação dos pecados, de modo a tornar Deus propício. Também chamado "hóstia pelo pecado”. A vítima era dividida em três partes uma parte consumida no fogo sobre altar, outra queimada fora do acampamento e uma terceira comida pelos sacerdotes.

Sacrifício eucarístico – sacrifício das hóstias pacíficas: O sacrifício eucarístico era oferecido para agradecer a Deus, qualquer graça recebida. Eram sacrifícios de ação de graças.

Sacrifício impetratório – sacrifício de impetração: Era feito para pedir a Deus qualquer graça importante. Os sacrifícios eucarísticos e impetratórios, também chamados de "pacíficos", se distinguiam da "hóstia pelo pecado" pelo fato de que o povo e os sacerdotes deviam participar, consumindo uma parte da vítima.


O sacrifício, portanto, é um oferecimento a Deus de uma coisa sensível para ser destruída ou modificada, o que era feito por quatro razões: I - Reconhecer o domínio soberano de Deus; II - Reconhecer a nossa dívida para com a justiça suprema de Deus e obter o Seu perdão; III - Agradecer as graças alcançadas: IV - Pedir a graça necessitada.

Todos estes sacrifícios do AT são prefigurações do Sacrifício de Cruz de Cristo. Diz o texto Sagrado: "No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo." (Jo 1,29). Afirmando assim que Jesus era o verdadeiro Cordeiro do Sacrifício agradável a Deus. E Jesus veio para nos libertar da antiga morte: "E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo" (Hb 2,14).


PRÉ-FIGURAÇÕES DO SANTO SACRIFÍCIO


Estes sacrifícios tinham caráter de preparação para o Sacrifício de Cristo que os substituiu e os superou como um Sacrifício, perfeito e eterno; as cerimônias eram figurativas, e as figuras desaparecem diante da realidade.

Quando se aproxima a instituição do Santo Sacrifício Jesus faz o grande discurso do Pão da vida (ver Jo 6,51-58). Aqui Jesus não está contando uma parábola, nem fala usando sinais.

Compreenderam que Jesus anunciava que iria entregar a sua própria carne para ser "realmente comida" em um sacrifício, não tendo feito uso de metáfora ou símbolo ou muito menos de uma parábola. Se Jesus estivesse fazendo uso de metáfora alguns discípulos não o teriam abandonado (Jo 6,66). Os discípulos não o abandonam quando disse ser a "luz" (Jo 8,12), "porta" (Jo 10,7), "a ressurreição e a vida" (Jo 11,25), "o caminho, a verdade e a vida" (Jo 14,6), "a verdadeira vide" (Jo 15,1), afastaram-se somente quando disse que seria "carne, comida". O motivo não pode ser outro que o de comunicar-lhes de que seria a vítima de um sacrifício. Foi essa idéia que não suportaram, abandonando-O.

Jesus prossegue dizendo: "Eu sou o PÃO VIVO DESCIDO DO CÉU. Quem comer deste PÃO viverá eternamente. O PÃO que eu DAREI é a minha carne para a VIDA DO MUNDO" (Jo 6,51). Jesus usa o futuro "DAREI a minha carne para a vida do mundo", anunciando a futura doação, seja na Instituição da Eucaristia seja na Cruz.

Pouco a pouco Jesus vai substituindo as antigas coisas pelas novas, vai cumprindo toda a Lei e Profecia. Chega então o momento d’Ele cumprir as relacionadas ao Santo Sacrifício, aos Sacerdotes e à Santa Missa, pois está escrito: “Desde o nascer ao pôr do sol, será oferecido, em todo lugar, em toda parte, um sacrifício puro e sem manchas à majestade do Altíssimo” (Ml 1, 11) e ainda: “Nunca se verá faltar os sacerdotes e os sacrifícios” (Jr 33, 18).

Para realçar o fato da identidade de Jesus como o Cordeiro Pascoal, os Evangelistas que narram a Instituição da Eucaristia, dispõem-na no mesmo dia da Sua Morte, levando-se em conta que o dia para o judeu começava à tarde e terminava na tarde seguinte. É o próprio Jesus que vinculou tudo (Páscoa e Aliança, Eucaristia e Morte na Cruz) de modo inseparável: Mt 26,26-28; Mc 14,22-24; Lc 22,19-20; 1Cor 11,23-25.

Apesar de cada narrador pretender abordar um ângulo diferente, existem detalhes que lhes são comuns. Destaca-se, para o nosso exame, o Sangue da Aliança, em Mateus e Marcos, e a Nova Aliança em Meu Sangue, em Lucas e Paulo.

O derramar o sangue, a que Cristo em Mateus se refere, é o rito de expiação: "Se a sua oferenda consistir em holocausto de animal grande, oferecerá um macho sem defeito... Porá a mão sobre a cabeça da vítima e esta será aceita para que se faça por ele o rito de expiação. Em seguida imolará o novilho diante de Iahweh, e os filhos de Aarão, os sacerdotes, oferecerão o sangue. Eles o derramarão ao redor sobre o altar..." (Lv 1,3-5.11-12).

Esta expiação se dá na Cruz: "... se alguém pecar, temos como advogado, junto do Pai, Jesus Cristo, o justo. Ele é a vítima de expiação pelos nossos pecados..." (1Jo 2,1-2)."Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele quem nos amou e enviou-nos o seu filho como vítima de expiação pelos nossos pecados" (1Jo 4,10)

São Paulo vai mais longe ainda, ao lhe dar a denominação de "propiciatório", no qual a aspersão do sangue traduzia o perdão dos pecados de toda a comunidade (Lv 16,14-22): "Deus o destinou a ser o propiciatório, por seu próprio sangue, mediante a fé" (Rm 3,25).

Jesus ao dizer-se SANGUE e SANGUE DA ALIANÇA durante a cerimônia da Ceia Eucarística, antecipa a expiação do Sacrifício da Cruz. Instituindo este Sacrifício da Nova e Eterna Aliança Jesus faz-nos participantes dos méritos da Cruz, pois Ele mesmo antecipou e perpetuou o Sacrifício da Cruz no Altar. Para que Seus Apóstolos, os Bispos e Padres, atualizassem o Seu Sacrifício e Vitória sobre a morte a cada vez que celebrassem o Sacrifício Eucarístico na Santa Missa.

Santo Irineu (+202) dizia “Os Apóstolos receberam este Sacrifício de Jesus Cristo e a Igreja O recebeu dos Apóstolos e ela O oferece hoje, por toda parte, conforme a profecia de Malaquias” e Santo Agostinho (+430) completa “Este Sacrifício foi estabelecido para substituir todos os sacrifícios do Antigo Testamento!...Oferecemos por toda parte, sob o grande Pontífice Jesus Cristo, aquilo que ofereceu Melquisedec”.


II – O TREMENDO SACRIFÍCIO DA SANTA MISSA


COMO PROVAR QUE DESDE OS APÓSTOLOS CELEBRAVA-SE A SANTA MISSA?


1) Pelas palavras de S. Paulo: "Nós (os cristãos) temos um altar, do qual os (sacerdotes judeus) que servem ao tabernáculo não têm faculdade de comer". (Heb 13, 10)

2) Pelos testemunhos inegáveis dos Santos Padres, pelas decisões dos Concílios, pelas antigas orações da Missa e por outros monumentos da Igreja oriental e ocidental.

"Quando Cristo disse: Isto é o meu corpo, etc., ensinou Ele o sacrifício do Novo Testamento que a Igreja recebeu dos Apóstolos e agora oferece a Deus, no mundo inteiro". (Sto. Inineu, +202)


GRANDEZA DO SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA[2]


O Concílio de Trento diz que “devemos reconhecer que nenhum outro ato pode ser praticado pelos fiéis que seja tão santo como a celebração deste tremendo Mistério [da Missa]. O próprio Deus todo ­poderoso não pode fazer que exista uma ação mais sublime e santa do que o Sacrifício da Missa. Este Sacrifício de nossos altares ultrapassa imensamente todos os sacrifícios do Antigo Testamento, pois que já não são bois e cordeiros que são sacrificados, mas é o próprio Filho de Deus que se oferece em Sacrifício”.

São João Crisóstomo diz que durante a Santa Missa o altar está circundado de Anjos que aí se reúnem para adorar a Jesus Cristo. São Agostinho chega até a dizer que os Anjos se colocam ao lado do Sacerdote para servi-lo como ajudantes.

São Cipriano ensina que “o Sacerdote exerce realmente o oficio de Jesus Cristo” (Ep. 62). Por isso o Sacerdote diz, na elevação: “Isto é o meu Corpo; este é o cálice de meu Sangue”.

Belarmino (De Euch. 1.6, c. 4) escreve que o Santo Sacrifício da Missa é oferecido por Jesus Cristo, pela Igreja e pelo Sacerdote; não, porém, do mesmo modo por todos: Jesus Cristo oferece como o Sacerdote principal, ou como o oferente próprio, mas por intermédio de um homem, que é ao mesmo tempo Sacerdote e ministro de Cristo; a Igreja não oferece como sacerdotisa, por meio de seu ministro, mas como povo, por intermédio do Sacerdote; o Sacerdote, finalmente, oferece como ministro de Jesus Cristo e como medianeiro de todo o povo.

A Santa Missa não é somente uma representação do Sacrifício da Cruz, “mas também uma renovação do mesmo Sacrifício, porque em ambos é o mesmo Sacerdote e a mesma Vítima, a saber, o Filho de Deus Humanado. Só no modo de oferecer há uma diferença: o Sacrifício da Cruz foi oferecido com derramamento de Sangue; o Sacrifício da Missa é incruento; na Cruz, Jesus morreu realmente; aqui, morre só misticamente” (Conc. Trid., Sess. 22, c. 2).

A SANTA MISSA NO MISSAL ROMANO



“A celebração da Missa [...] é o centro de toda a vida cristã tanto para a Igreja universal como local e também para cada um dos fiéis. Pois nela se encontra tanto o ápice da ação pela qual Deus santifica o mundo em Cristo, como o do Culto que os homens oferecem ao Pai, adorando-o pelo Cristo, Filho de Deus. [...] As demais ações sagradas e todas as atividades da vida cristã a ela estão ligadas, dela decorrendo ou a ela sendo ordenadas.” (IGMR 16)

Elementos Gerais

“Os fiéis permaneçam de pé [:][1]

- do início do canto da entrada, ou enquanto o Sacerdote se aproxima do altar, até a oração do dia inclusive;

- ao canto do Aleluia antes do Evangelho;

- durante a proclamação do Evangelho;

- durante a profissão de fé e a oração universal;

- e do convite Orai, irmãos antes da oração sobre as oferendas até o fim da Missa, exceto nas partes citadas em seguida.

Sentem-se durante [:]

- as leituras antes do Evangelho e durante o salmo responsorial;

- durante a homilia e durante a preparação das oferendas;

- e, se for conveniente, enquanto se observa o silêncio sagrado após a Comunhão.

Ajoelhem-se[:]

- porém, durante da consagração, a não ser que, por motivo de saúde ou falta de espaço ou o grande número de presentes ou outras causas razoáveis não o permitam. Contudo, aqueles que não se ajoelham na consagração, façam inclinação profunda enquanto o Sacerdote faz genuflexão após a consagração.

Para se obter a uniformidade nos gestos e posições do corpo numa mesma celebração, obedeçam os fiéis aos avisos dados pelo diácono, por um ministro leigo ou pelo Sacerdote, de acordo com o que vem estabelecido no Missal. (IGMR 43)

Rito da Santa Missa
RITOS INICIAIS

1. Entrada:

“Reunido o povo, enquanto entra o Sacerdote com o diácono e os ministros, inicia-se o cântico de entrada. A finalidade deste cântico é dar início à celebração, favorecer a união dos fiéis reunidos e introduzi-los no mistério do tempo litúrgico ou da festa, e ao mesmo tempo acompanhar a procissão de entrada do Sacerdote e dos ministros.” (IGMR 47)

2. Saudação do altar e da assembléia:

“Chegados ao presbitério, o Sacerdote, o diácono e os ministros saúdam o altar com inclinação profunda. Em sinal de veneração, o Sacerdote e o diácono beijam então o altar; e, se for oportuno, o Sacerdote incensa a Cruz e o altar.” (IGMR 49) “Terminado o cântico de entrada, o sacerdote, de pé junto da cadeira, e toda a assembleia fazem sobre si próprios o sinal da Cruz”. (IGMR 50). Somente o Sacerdote diz: Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Assim como somente os fiéis respondem: Amém. (Rubrica 2, MR)[2]
3. Ato penitencial:

“Em seguida, o Sacerdote convida ao ato penitencial, o qual, após uma breve pausa de silêncio, é feito por toda a comunidade com uma fórmula de confissão geral e termina com a absolvição do Sacerdote; esta absolvição, porém, carece da eficácia do sacramento da penitência. (IGMR 51)

O Missal Romano dispõe de três fórmulas para o ato penitencial[3] e não pode ser confundido com o kyrie, nem substituído por ele.

4. Kýrie, eleison:

“Depois do ato penitencial, diz-se sempre o Senhor, tende piedade de nós (Kýrie, eléison), a não ser que já tenha sido incluído no ato penitencial. É normalmente executado por todos, em forma alternada entre o povo e a schola ou um cantor.

Cada uma das aclamações diz-se normalmente duas vezes, o que não exclui, porém, um maior número, de acordo com a índole de cada língua, da arte musical ou das circunstâncias. Quando o Kýrie é cantado como parte do ato penitencial, cada aclamação é precedida de um ‘tropo’.” (IGMR 52).

5. Glória in excelsis:

“O Glória é um antiquíssimo e venerável hino com que a Igreja, congregada no Espírito Santo, glorifica e suplica a Deus e ao Cordeiro. Não é permitido substituir o texto deste hino por outro. É começado pelo Sacerdote ou, se for oportuno, por um cantor, ou pela schola, e é cantado ou por todos em conjunto, ou pelo povo alternando com a schola, ou só pela schola. Se não é cantado, é recitado ou por todos em conjunto ou por dois coros alternadamente. Canta-se ou recita-se nos domingos fora do Advento e da Quaresma, bem como nas solenidades e festas, e em particulares celebrações mais solenes.” (IGMR 53)

6. Oração colecta:

Oração do coleta (= oração do dia) é a oração precedida pelo primeiro oremos que o Padre reza. “[...] o Sacerdote convida o povo à oração; e todos, juntamente com ele, se recolhem uns momentos em silêncio, [...].

– se é dirigida ao Pai: Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo [Per Dóminum nostrum Iesum Christum Fílium tuum, qui tecum vivit et regnat in unitáte Spíritus Sancti, Deus, per ómnia sáecula saeculórum];

– se é dirigido ao Pai, mas no fim é mencionado o Filho: Que convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo [Qui tecum vivit et regnat in unitate Spíritus Sancti, Deus, per omnia sáecula saeculórum];

– se é dirigido ao Filho: Vós, que sois Deus com o Pai, na unidade do Espírito Santo [Qui vivis et regnas cum Deo Patre in unitate Spíritus Sancti, Deus, per omnia sáecula saeculórum].

O povo associa-se a esta súplica e faz sua a oração pela aclamação Amém [Amen].

LITURGIA DA PALAVRA

1. Leituras bíblicas:

Durante a semana lê-se uma leitura, um salmo e o Evangelho. Não é lícito substituir as leituras e o salmo responsorial por outros textos não bíblicos.” (IGMR 57).

“Na celebração da Missa com o povo, as leituras proclamam-se sempre do ambão.” (IGMR 58).

“A leitura do Evangelho constitui o ponto culminante da Liturgia da Palavra. Deve ser-lhe atribuída a maior veneração.” (IGMR 60).

2. Salmo responsorial:

“O salmo responsorial corresponde a cada leitura e habitualmente toma-se do Lecionário. Convém que o salmo responsorial seja cantado, pelo menos no que se refere à resposta do povo. Em vez do salmo que vem indicado no Lecionário, também se pode cantar ou o responsório gradual tirado do Gradual Romano ou um salmo responsorial ou aleluiático do Gradual simples, na forma indicada nestes livros.” (IGMR 61).

3. Aclamação antes da leitura do Evangelho:

“Depois da leitura, que precede imediatamente o Evangelho, canta-se o Aleluia ou outro cântico, indicado pelas rubricas, conforme o tempo litúrgico.

a) O Aleluia canta-se em todos os tempos fora da Quaresma. Os versículos tomam-se do Lecionário ou do Gradual;

b) Na Quaresma, em vez do Aleluia canta-se o versículo antes do Evangelho que vem no Lecionário. Também se pode cantar outro salmo ou tracto, como se indica no Gradual.” (IGMR 62)

4. Homilia:

“A homilia é parte da Liturgia e muito recomendada: é um elemento necessário para alimentar a vida cristã. Deve ser a explanação de algum aspecto das leituras da Sagrada Escritura ou de algum texto do Ordinário ou do Próprio da Missa do dia, tendo sempre em conta o mistério que se celebra, bem como as necessidades peculiares dos ouvintes.” (IGMR 65)“Habitualmente a homilia deve ser feita pelo Sacerdote celebrante ou por um Sacerdote concelebrante, por ele encarregado, ou algumas vezes, se for oportuno, também por um diácono, mas nunca por um leigo. [...] (IGMR 66)

5. Profissão de fé:

“O Símbolo[4] [...] tem como finalidade permitir que todo o povo reunido, responda à palavra de Deus anunciada nas leituras da sagrada Escritura e exposta na homilia.” (IGMR 67).

“O Símbolo deve ser cantado ou recitado pelo Sacerdote juntamente com o povo, nos domingos e nas solenidades. Se é cantado, é começado pelo Sacerdote ou, se for o caso, por um cantor, ou pela schola; cantam-no todos em conjunto ou o povo alternando com a schola. Se não é cantado, deve ser recitado conjuntamente por todos ou por dois coros alternadamente.” (IGMR 68).

6. Oração universal:

“[...] Convém que em todas as Missas com participação do povo se faça esta oração, na qual se pede pela santa Igreja, pelos governantes, pelos que se encontram em necessidade, por todos os homens em geral e pela salvação do mundo inteiro.” (IGMR 69).

Normalmente a ordem das intenções é a seguinte:

a) pelas necessidades da Igreja;

b) pelas autoridades civis e pela salvação do mundo;

c) por aqueles que sofrem dificuldades;

d) pela comunidade local.

LITURGIA EUCARÍSTICA

1) Na preparação dos dons, levam-se ao altar o pão e o vinho com água, isto é, os mesmos elementos que Cristo tomou em suas mãos.

2) Na Oração eucarística, dão-se graças a Deus por toda a obra da salvação, e as oblatas convertem-se no Corpo e Sangue de Cristo.

3) Pela fração do Pão e pela Comunhão, os fiéis, embora muitos, recebem, de um só Pão, o Corpo e Sangue do Senhor, do mesmo modo que os Apóstolos o receberam das mãos do próprio Cristo.” (IGMR 72).

“Como elementos principais da Oração eucarística podem enumerar-se os seguintes:

a) Ação de graças

b) Aclamação

c) Epiclese

d) Narração da instituição e consagração

e) Anamnese

f) Oblação

g) Intercessões

h) Doxologia final

4. Rito da Comunhão:

- Oração dominical:

“Na Oração dominical pede-se o pão de cada dia, que para os cristãos evoca principalmente o Pão eucarístico; igualmente se pede a purificação dos pecados, de modo que efetivamente ‘as coisas santas sejam dadas aos santos’. O convite, a oração, o embolismo e a doxologia conclusiva dita pelo povo, devem ser cantados ou recitados em voz alta.” (IGMR 81).

Rito da paz[5]:

“Segue-se o rito da paz, no qual a Igreja implora a paz e a unidade para si própria e para toda a família humana, e os féis exprimem uns aos outros a comunhão eclesial e a caridade mútua, antes de comungarem no Sacramento. Quanto ao próprio sinal com que se dá a paz [...] é conveniente que cada um dê a paz com sobriedade apenas aos que estão mais perto de si.” (IGMR 82).

- Fração do pão:

“O Sacerdote parte o Pão eucarístico. O gesto da fração, praticado por Cristo na última Ceia, significa que os fiéis, apesar de muitos, se tornam um só Corpo, pela Comunhão do mesmo Pão da vida que é Cristo [...]. A fração começa depois de se dar a paz e realiza-se com a devida reverência. Este rito é reservado ao Sacerdote e ao diácono.

Enquanto o Sacerdote parte o Pão e deita uma parte da Hóstia no cálice, a schola ou um cantor canta ou recita a invocação Cordeiro de Deus[6], a que todo o povo responde.” (IGMR 83).

- Comunhão:

“O Sacerdote prepara-se para receber frutuosamente o Corpo e Sangue de Cristo rezando uma oração em silêncio. Os fiéis fazem o mesmo orando em silêncio. (IGMR 84).

“Enquanto o Sacerdote toma o Sacramento, dá-se início ao cântico da Comunhão. O cântico prolonga-se enquanto se ministra aos fiéis o Sacramento. Se se canta um hino depois da Comunhão, o cântico da Comunhão deve terminar a tempo. Procure-se que também os cantores possam comungar comodamente.” (IGMR 86).

5. Rito de conclusão ou rito final:

a) Notícias breves[7], se forem necessárias;

b) Saudação e bênção do Sacerdote, a qual, em certos dias e em ocasiões especiais, é enriquecida e amplificada com uma oração sobre o povo ou com outra fórmula mais solene de bênção.

c) Despedida da assembléia, feita pelo diácono ou Sacerdote;

d) Beijo no altar por parte do Sacerdote e do diácono e depois inclinação profunda ao altar por parte do Sacerdote, do diácono, e dos outros ministros.” (IGMR 90).

A forma de celebração da Missa com o Povo

“Entende-se por Missa com o povo a que é celebrada com participação dos fiéis. Na medida do possível, convém que esta Missa, especialmente nos domingos e festas de preceito, seja celebrada com canto e com número adequado de ministros. Pode, todavia, celebrar-se também sem canto e com um só ministro.” (IGMR 115).“Em qualquer celebração da Missa, estando presente um diácono, este deve nela desempenhar o seu ministério. Convém ainda que o Sacerdote celebrante seja assistido normalmente por um acólito, um leitor e um cantor.” (IGMR 116).
Coisas a preparar para a Santa Missa

“O altar deve ser coberto pelo menos com uma toalha de cor branca. Sobre o altar ou perto dele, dispõem-se, em qualquer celebração, pelo menos dois castiçais com velas acesas, ou quatro ou seis, sobretudo no caso da Missa dominical ou festiva de preceito, e até sete, se for o Bispo diocesano a celebrar. Igualmente, sobre o altar ou perto dele, haja uma Cruz, com a imagem de Cristo crucificado. Os castiçais e a Cruz ornada com a imagem de Cristo crucificado podem ser levados na procissão de entrada. Também se pode colocar sobre o altar o Evangeliário, distinto do livro das outras leituras, a não ser que ele seja levado na procissão de entrada.” (IGMR 117).

“Preparam-se também:

a) Junto à cadeira do Sacerdote: o Missal e o livro de canto;

b) No ambão: o Lecionário;

c) Na credência: o cálice, o corporal, o sanguinho e a pala; a patena e as píxides; o pão para a Comunhão do Sacerdote que preside, do diácono, dos ministros e do povo; as galhetas com o vinho e a água; o vaso da água a benzer, se se fizer a aspersão; a patena para a Comunhão dos fiéis; e ainda o que for necessário para lavar as mãos[8]. É louvável cobrir o cálice com um véu, que pode ser ou da cor do dia ou de cor branca. (IGMR 118).

“Na sacristia segundo as diferentes formas de celebração:

a) para o Sacerdote: alva[9], estola e casula[10] ou planeta;

b) para o diácono: alva, estola e dalmática; esta, por necessidade ou por motivo de menor solenidade, pode omitir-se;

c) para os outros ministros[11]: alva ou outras vestes legitimamente aprovadas.

Quando a entrada se faz com procissão, prepara-se também: o Evangeliário; nos domingos e festas, o turíbulo e a naveta com incenso, se se usa o incenso; a Cruz a levar na procissão e os candelabros com círios acesos.” (IGMR 119).

[1] Grifo nosso

[2] Rubrica nº 2 do Missal Romano. Encontra-se no Ordinário da Missa com o Povo, p. 389

[3] As fórmulas vêm precedidas de respectivos convites. Conferir p. 390-392. Existe também as invocações alternativas para os diversos tempos (cf. p. 393-398).

[4] Também conhecido por Credo ou Creio. Atualmente temos na Igreja dois Símbolos: o Símbolo Niceno-Constantinopolitano e o Símbolo dos Apóstolos.

[5] O Missal Romano não prevê nenhum canto para acompanhar o rito da paz, ou como dizem: o abraço da paz.

[6] Deve-se notar que o Cordeiro de Deus é uma invocação que acompanha o rito da fração da Santíssima Hóstia, por isso só deve começar quando começar a fração e terminar quando for encerrado o rito da fração. Para tanto, é necessário que os Sacerdotes não comecem o rito antes de terminar o rito da paz, o que faria os dois ritos, da paz e da fração, perderem o sentido.

[7] Aqui se trata dos famosos avisos. Eles devem, se forem necessários, sempre ser feitos aqui e nunca antes da oração pós-comunhão.

[8] Ou seja, o lavabo, constituído pela bacia, a jarra e o manustérgio.

[9] A alva pode ser substituída pela túnica.

[10] O uso da casula não exclui a obrigatoriedade de usar a estola.

[11] Estes “outros ministros” são os acólitos instituídos, nunca os MESCEs, pois eles não podem usar alva ou qualquer outra veste que se assemelhe às dos ministros sagrados.

A GRANDEZA DO SANTO SACRIFICIO DA MISSA



1) Na Santa Missa é Jesus Cristo a Vítima


O Concílio de Trento diz da Santa Missa (Ceci. 22): “Devemos reconhecer que nenhum outro ato pode ser praticado pelos fiéis que seja tão santo como a celebração deste tremendo Mistério. O próprio Deus todo ­poderoso não pode fazer que exista uma ação mais sublime e santa do que o Sacrifício da Missa. Este Sacrifício de nossos altares ultrapassa imensamente todos os sacrifícios do Antigo Testamento, pois que já não são bois e cordeiros que são sacrificados, mas é o próprio Filho de Deus que se oferece em Sacrifício. [...] Tem, portanto, razão São Lourenço Justiniano ao dizer que não há sacrifício maior, mais portentoso e mais agradável a Deus do que o Santo Sacrifício da Missa” (Sermo de Euch.).


São João Crisóstomo diz que durante a Santa Missa o altar está circundado de Anjos que aí se reúnem para adorar a Jesus Cristo, que, nesse Sacrifício sublime, é oferecido ao Pai celeste (De sac., 1.6). Que cristão poderá duvidar, escreve São Gregório (Dial. 4, c. 58), que os Céus se abram à voz do Sacerdote, durante esse Santo Sacrifício, e que coros de Anjos assistam a esse sublime Mistério de Jesus Cristo. São Agostinho chega até a dizer que os Anjos se colocam ao lado do Sacerdote para servi-lo como ajudantes.


2) Na Santa Missa é Jesus Cristo o oferente principal


O Concílio de Trento (Ceci. 22, c.2) ensina-nos também que neste Sacrifício do Corpo e Sangue de Jesus Cristo é o próprio Salvador que oferece em primeiro lugar esse Sacrifício, mas que o faz pelas mãos do Sacerdote que ele escolheu para seu ministro e representante. Já antes dissera São Cipriano: “O Sacerdote exerce realmente o oficio de Jesus Cristo” (Ep. 62). Por isso o Sacerdote diz, na elevação: “Isto é o meu Corpo; este é o cálice de meu Sangue”.


Belarmino (De Euch. 1.6, c. 4) escreve que o Santo Sacrifício da Missa é oferecido por Jesus Cristo, pela Igreja e pelo Sacerdote; não, porém, do mesmo modo por todos: Jesus Cristo oferece como o Sacerdote principal, ou como o oferente próprio, mas por intermédio de um homem, que é ao mesmo tempo Sacerdote e ministro de Cristo; a Igreja não oferece como sacerdotisa, por meio de seu ministro, mas como povo, por intermédio do Sacerdote; o Sacerdote, finalmente, oferece como ministro de Jesus Cristo e como medianeiro de todo o povo.


Jesus Cristo, contudo, é sempre o Sacerdote principal na Santa Missa, em que ele se oferece continuamente e sob as Espécies de Pão e de Vinho por intermédio dos Sacerdotes, seus ministros, que representam a pessoa de Jesus Cristo, quando celebram os Santos Mistérios. Por isso diz o Quarto Concílio de Latrão (Cap. Firmatur, de Sum. Trinit.) [diz] que Jesus Cristo é ao mesmo tempo o Sacerdote e o Sacrifício. De fato, convém à dignidade deste Sacrifício que ele não seja oferecido, em primeiro lugar, por homens pecadores, mas por um sumo sacerdote que não esteja sujeito ao pecado, mas que seja santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores e mais elevado que os Céus (Heb. 7, 20).


3) A Santa Missa [atualiza o] Sacrifício da Cruz


Segundo São Tomás (Off. Ss. Sac., 1.4), o Salvador nos deixou o Santíssimo Sacramento para conservar viva entre nós a lembrança dos bens que nos adquiriu e do amor que nos testemunhou com sua morte. Por isso o mesmo Doutor chama a Sagrada Eucaristia “um manancial perene da Paixão”.


Ao assistires, pois, à Santa Missa, pondera que a Hóstia que o Sacerdote oferece é o próprio Salvador que por ti sacrificou seu Sangue e sua vida. Entretanto, a Santa Missa não é somente uma representação do Sacrifício da Cruz, “ mas também uma renovação do mesmo Sacrifício, porque em ambos é o mesmo Sacerdote e a mesma Vítima, a saber, o Filho de Deus Humanado. Só no modo de oferecer há uma diferença: o Sacrifício da Cruz foi oferecido com derramamento de Sangue; o Sacrifício da Missa é incruento; na Cruz, Jesus morreu realmente; aqui, morre só misticamente” (Conc. Trid., Sess. 22, c. 2).


Representa-te, durante a Santa Missa, te achares no monte Calvário, para ofereceres a Deus o Sangue e a vida de seu adorável Filho, e, ao receberes a santa Comunhão, representa-­te beberes seu precioso Sangue das chagas do Salvador. Pondera também que em cada Missa se renova a obra da redenção, de maneira que, se Jesus Cristo não tivesse morrido na Cruz, o mundo receberia, com a celebração de uma só Missa, os mesmos benefícios que a morte do Salvador lhe trouxe. Cada Missa que é celebrada encerra em si todos os grandes bens que a morte na Cruz nos trouxe, diz São Tomás (In Jo 6, lect. 6). Pelo Sacrifício do altar nos é aplicado o Sacrifício da Cruz. A Paixão de Jesus Cristo nos habilitou à redenção; a Santa Missa faz-nos entrar na posse dela e comunica-nos os merecimentos de Jesus Cristo.


4) A Santa Missa é o maior presente de Deus


Na Santa Missa Jesus Cristo mesmo dá­-se a nós. É uma verdade de Fé que o Verbo Encarnado se obrigou a obedecer ao Sacerdote, quando ele pronuncia as palavras da consagração, e a vir às suas mãos sob as Espécies de pão e de vinho. [...] Entretanto, muito mais admirável é que Deus mesmo desce ao altar ou a qualquer outro lugar a que o Padre o chama com umas poucas palavras, e isso tantas vezes quantas é chamado pelo Sacerdote, mesmo que este seja seu inimigo. E, tendo vindo, põe-se o Senhor à inteira disposição do Sacerdote; este o leva, à vontade, de um lugar para o outro, coloca-o sobre o altar, fecha-o no tabernáculo, tira-o da igreja, toma-o na santa Comunhão, e o dá em alimento a outros. São Boaventura diz que o Senhor, em cada Missa, faz ao mundo um benefício igual àquele que lhe fez outrora pela encarnação (De inst. Novit., p. 1, c. 1). [...]

Numa palavra, a Santa Missa, conforme a predição do profeta (Zac 9, 17), é a coisa mais preciosa e bela que possui a Igreja [...]. São Bartolorneu (De inst. Nov., 1. c) diz que a Santa Missa nos põe diante dos olhos todo o amor que Deus nos dedicou, e que é, de certo modo, um compêndio de todos os benefícios que ele nos fez. Por isso o Demônio se esforçou sempre para retirar do mundo a Santa Missa por meio dos hereges; estes se mostram assim como precursores do Anticristo, que procurará, antes de tudo, impedir a celebração da Santa Missa, o que ele, de fato, conseguirá, conforme a profecia de Daniel (Dan 8, 12): “E lhe será dado o poder contra o sacrifício perene por causa dos pecados”.

O NOVO RITO ROMANO- De frente pra Deus






VERSUS DEUM


O novo Missal Romano, promulgado a 3 de abril de 1969, portanto praticamente a ano a quarentra anos atraz, contém o Rito Ordenario da Igreja Catolica Romana. Depois destes anos quase que experimentais podemos começar a ver os frutos da nova forma de rezar a Santa Missa.


Antes da reforma do Concílio Vaticano II o Missa era rezada segundo o Missal de São Pio V, promulgado pelo Concílio de Trento. Quando se fala de “Missa Tridentina” ou de “São Pio V” logo se pensa no latim e no padre de costas para o povo. Essa identificação é uma forte característica de uma geração que a quarenta anos não vê os padres rezarem o antigo e rico Rito Romano e da nova geração que é induzida a idéias errôneas por nunca terem conhecido este grande tesouro da Igreja de Deus.


Porém, devemos compreender que o novo Missal não aboliu o antigo e, segundo as palavras de Bento XVI no seu Motu Proprio, o novo deve ser rezado enriquecendo-se com os tesouros do antigo.


Assim podemos perceber discursão em torno da questão da orientação, posição do sacerdote durante o Santo Sacrifício. O que muita gente não sabe e que quase não se fala é que a posição do sacerdote nunca mudou na Santa Missa. Porém, tornou-se costume, por causa da possibilidade dada pela Missale Romanum, rezar toda a Missa de frente para o povo (versus populum), o que a maioria dos padres fazem, contudo, nunca rezam de frente para Deus (versus Deum).


A Constituição Sacrossanto Concílio nada fala sobre a orientação do sacerdote na Santa Missa e a Constituição Missal Romano também nada fala sobre isso. Pelo contrário, o novo Missal Romano diz em certas rubricas que o padre deve “voltar-se para o povo” o que leva a compreender que antes ele estava de costas para o povo. Do contrário, seria uma confusão da Costituição mandar os padre ficarem de frente para o povo se eles já estivessem.


É bom lembrar que a posição de frente para Deus (versus Deum) ou de frente para o altar nunca foi proibida, pelo contrário percebe-se a frenqüência de Missas rezadas pelo Romano Pontífice e por muitos padres de frente para Deus, sem excluir a versus populum.


A Santa Missa é festa, é a Ceia do Senhor, é comunhão de irmãos, mas antes e sobretudo ela é a atualização do Sacrifício de Cristo na Cruz, a Missa é o Sacrifício incruento de nosso Senhor. Por isso, os fiés não devem ser honrados a ponto de se tornarem a referência da orientação pois, “a imolação incruenta, por meio da qual, depois de pronunciadas as palavras da Consagração, Jesus Cristo torna-se presente sobre o altar no estado de Vítima, é levada a cabo somente pelo sacerdote, enquanto representante da Pessoa de Cristo, e não enquanto representante da pessoa dos fiéis.” (Sua Santidade, o Papa Pio XII. Encíclica Mediator Dei)


As duas posições são válidas na Igreja, mas o que deve ser levado em conta não é só isso. Devemos pensar no bem espiritual dos fiéis e na honra de Nosso Senhor. Com a versus populum a assembléia sente-se valorizada, integrante mas é levada a fixar-se na pessoa do padre e o padre na pessoa dos fiés; simbólica e liturgicamente o padre não é mais visto como o mediador, intercessor, do povo, mas mais um “irmão” ao redor do altar. Na versus Deum todos ficam voltados para o oriente, ou pelo menos para o Santíssimo ou altar, que é a antiga posição dos cristãos rezarem ao Senhor; o padre é posto entre o povo e o altar de Deus como aquele que oferece o “Cordeiro de Deus” para tirar “os pecados do mundo”; o padre é posto de costa para o povo, ou seja, na sua frente, o que representa o seu pastoreio junto do rebanho de Deus.


“Sobre a orientação do altar para o povo, não há sequer uma palavra no texto conciliar. Ela é mencionada em instruções pós-conciliares. A mais importante delas é a Institutio generalis Missalis Romani, a Introdução Geral ao novo Missal Romano, de 1969, onde, no número 262, se lê: “O altar maior deve ser construído separado da parede, de modo a que se possa facilmente andar ao seu redor e celebrar, nele, olhando na direção do povo [versus populum]”. A introdução à nova edição do Missal Romano, de 2002, retomou esse texto à letra, mas, no final, acrescentou o seguinte: “Isso é desejável sempre que possível”. Esse acréscimo foi lido por muitos como um enriquecimento do texto de 1969, no sentido de que agora haveria uma obrigação geral de construir - “sempre que possível” - os altares voltados para o povo. Essa interpretação, porém, já havia sido repelida pela Congregação para o Culto Divino, que tem competência sobre a questão, em 25 de Setembro de 2000, quando explicou que a palavra “expedit” [é desejável] não exprime uma obrigação (...).” (Ratzinger, op. cit.)


“Por último, penso que se o sacerdote rezasse, em algumas ocasiões, a Liturgia Eucarística versus Deum – algo perfeitamente possível segundo as normas atuais –, isso também ajudaria a perceber qual é a orientação espiritual da Liturgia – em direcção a Deus, o que não significa nenhum desprezo do Povo. Aliás, alguém diz para a pessoa do banco da frente: ‘você está de costas para mim’?; ou que os noivos, no sacramento do Matrimónio, estão de ‘costas para o povo’?” (BELLO, Joathas, Algumas reflexões sobre a liturgia, disponível em http://ictys.blogspot.com/2005/10/algumas-reflexes-sobre-liturgia.html)


Em setembro de 2008 o Padre Roberto Littieri, fundador da Toca de Assis, veio em visita à Fraternidade em Teresina e na oportunidade celebrou na Igreja de Fátima o Rito Romano da Santa Missa de frente para Deus. Infelizmente alguns padres não compreenderam, pois nunca tinham ouvido falar nessas coisas. É incrível! Porém, sabemos que é perfeitamente possível este tipo de celebração.

OS ANJOS DA GUARDA






“Eis que eu enviarei o meu anjo,que vá adiante de ti, e te guarde

pelo caminho, e te introduzano lugar que preparei".

(Ex 23, 20-23)


DEUS, no seu amor infinito pelos homens, entregou cada um de nós à guarda e cuidado especial de um anjo, que nos acompanha desde o nascimento até a morte: o Anjo da Guarda.

Essa doutrina foi sempre ensinada pela Igreja ( Cf. Catecismo Romano, Parte IV, cap. IX, n. 4. ) e se baseia em testemunhos da Sagrada Escritura e da Tradição — Santos Padres, Magistério Eclesiástico, Liturgia.


As Escrituras e os Santos Padres

O Antigo Testamento faz contínuas referências a esses anjos que nos servem de protetores. Mais do que nos ensinar explicitamente tal verdade, parece dá-la por suposta em suas narrações.

Jacó ao abençoar seus netos, filhos de José, diz: “Que o anjo que me livrou de todo o mal, abençõe estes meninos” (Gen 48, 16)

Nas palavras seguintes de Deus a Moisés encontramos os múltiplos ofícios que incumbem ao Anjo da Guarda, de proteção e de conselho: “Eis que eu enviarei o meu anjo, que vá adiante de ti, e te guarde pelo caminho, e te introduza no lugar que preparei. Respeita-o, e ouve a sua voz, e vê que não o desprezes; porque ele não te perdoará se pecares, e o meu nome está nele. Se ouvirdes a sua voz, e fizerdes tudo o que te digo, eu serei inimigo dos teus inimigos, e afligirei os que te afligem. E o meu anjo caminhará adiante de ti" (Ex 23,20-23).

Por meio do profeta Baruc, Deus comunica a Israel: “Porque o meu anjo está convosco, e eu mesmo terei cuidado das vossas almas" (Bar 6,6)

O Salmo 90 exprime, com muita poesia, a solicitude de Deus para conosco, por meio do Anjo da Guarda: “O mal não virá sobre ti, e o flagelo não se aproximará da tua tenda. Porque mandou (Deus) os seus anjos em teu favor, que te guardem em todos os teus caminhos. Eles te levarão nas suas mãos, para que o teu pé não tropece em alguma pedra” (SI 90, 10-12).

E outro Salmo proclama: “O anjo do Senhor assenta os seus acampamentos em volta dos que o temem, e os liberta” (SI 33, 8).

Lançado na cova dos leões, por intriga de invejosos, Daniel foi socorrido por um anjo: “O meu Deus enviou o seu anjo, e fechou as bocas dos leões e estes não me fizeram mal algum” (Dan 6, 21).

Fala-se, no Livro dos Reis, de um exército de carros que cercavam o profeta Eliseu (4 Reis 6, 14-17). São Tomás vê aí uma imagem do poder dos Anjos Custódios e a preponderância dos anjos bons sobre os maus.

São inúmeras as passagens do Antigo Testamento que fazem referência à doutrina sobre os Anjos da Guarda. Em nenhuma porém, a solicitude dos anjos para com os homens fica tão patente como no livro de Tobias.[1] E por isso que ele é muito citado sempre que se trata da matéria.

Esse ensinamento se torna mais preciso no Novo Testamento, onde a existência do Anjo da Guarda é confirmada pelo próprio Salvador. Aos seus discípulos, advertindo-os contra os escândalos em relação às crianças, diz: “Vêdes que não desprezeis a um só destes pequeninos, pois eu vos declaro que os seus anjos vêem continuamente a face de meu Pai que está nos céus” (Mt 18, 10). Essas palavras deixam claro que mesmo as crianças pequenas têm seus Anjos Custódios, como também que estes anjos mantém a visão beatífica de Deus ao descer à terra para atender e proteger a seus custodiados.

Também São Paulo se refere ao papel protetor dos anjos em relação aos homens: “Não são eles todos espíritos a serviço de Deus mandados para exercer o ministério a favor dos que devem obter a salvação?” (Heb 1, 14).

Os Santos Padres ensinam desde cedo essa doutrina.

São Basílio (329-379), entre os gregos, afirma: “Que cada qual tenha um anjo para o dirigir, como pedagogo e pastor, é o ensinamento de Moisés” ( Apud Card. J. DANIELOU, Les Anges et leur mission, p. 93. )

E, entre os latinos, São Jerônimo (342-420) assim comenta passagem de São Mateus (18, 10), acima citada, sobre os anjos das crianças: “Isto mostra a grande dignidade das almas, pois cada uma tem, desde o nascimento, um anjo encarregado de sua guarda" (Comm. in Evang. 5. Matth., lib. III, ad cap. XVIII, 10 Apud Card. P. GA5PARRI Catechisme Catholique pour Adultes, p. 346. )

A crença na existência e atuação dos Anjos da Guarda está tão firmemente estabelecida na tradição da Igreja, que desde tempos imemoriais foi instituída uma festa especial em louvor deles (2 de outubro).


O ensinamento dos teólogos

A partir dos dados da Sagrada Escritura e da Tradição, teólogos foram explicitando ao longo dos séculos uma doutrina sólida e coerente sobre os Anjos da Guarda.

O príncipe dos teólogos, São Tomás de Aquino, na sua célebre Suma Teológica, (Suma Teológico, 1,q. 113.) expõe largamente essa doutrina.

O santo Doutor justifica a existência dos Anjos da Guarda pelo princípio de que Deus governa as coisas inferiores e variáveis por meio das superiores e invariáveis. O homem não só é inferior ao anjo, mais ainda está sujeito a instabilidades e variações por causa fraquesa de seu conhecimento, das paixões, etc. Assim, ele é governado e amparado pelos anjos, que servem como instrumentos da providência especial de Deus para com os homens.

A função principal do Anjo da Guarda é iluminar-nos em relação a verdade, à boa doutrina; mas sua custódia tem também muitos efeitos, tais como reprimir os demônios e impedir que nos sejam causados outros danos espirituais ou corporais.

Cada homem tem um anjo especialmente encarregado de guardá-lo, distinto do das coletividades humanas de que façam parte. Estas têm anjos especiais para custodiá-las; enquanto os anjos dos indivíduos pertencem ao último coro angélico, o das coletividades ou instituições podem fazer parte dos coros e hierarquias superiores.

Como há vários títulos pelos quais um homem necessita ser especialmente protegido (ou seja, considerado enquanto particular ou como ocupando um cargo ou função na Igreja a ou na sociedade), um mesmo homem pode ter vários anjos para custodiá-lo.

A Virgem Santíssima, Rainha dos Anjos, teve também não um, mas os Anjos da Guarda. Enquanto homem, Jesus teve Anjos da Guarda; não evidentemente para protegê-Lo, pois o inferior não guarda o superior, mas para servi-Lo.

Mesmo os infiéis têm Anjos da Guarda e até o Anti-Cristo o terá.

O Anjo da Guarda nunca abandonará o homem, mesmo após a morte, se ele for para o Paraíso, pois a custódia angélica é parte da providência especial de Deus para com o homem, o qual jamais estará totalmente privado da providência divina.

Embora estejam normalmente no Céu, contemplando a Deus, os Anjos da Guarda conhecem tudo o que se passa na terra com seus protegidos; podem, então, quase imediatamente, passar de um lugar ao outro para protegê-los ou influenciá-los beneficamente.

Santo Agostinho pergunta: “Como podem os anjos estar longe, quando nos foram dados por Deus para ajudar-nos?” E responde:

“Eles não se apartam de nós, embora aquele que é assaltado pelas tentações pense que estão longe”. (Apud A. J. MacINTYRE, Os anjos, urna realidade admirável p. 321. )

Os Anjos Custódios nunca estão em oposição ou divergência real entre si. O relato bíblico da luta entre o anjo da Pérsia e o anjo Protetor dos Judeus (cf. Dan 10, 13-21) em que o primeiro queria reter os hebreus na Babilônia e o segundo desejava conduzi-los de volta à sua pátria encontra a seguinte explicação: às vezes Deus não revela aos anjos os méritos ou os deméritos das diversas nações ou indivíduos que eles custodiam. Enquanto não conhecem com certeza a vontade divina, os Anjos da Guarda procuram, santamente, proteger de todas as formas os que estão sob a sua proteção, mesmo contrariando os desejos de outros Anjos Custódios. Mas logo que a vontade de Deus fica clara para eles, todos se submetem pressurosos, pois o que desejam sempre é fazer a vontade divina.

Do mesmo modo que os homens, também as instituições, os povos e os países contam com um anjo especialmente encarregado de velar por eles.

Essa doutrina tem base nas palavras da Sagrada Escritura, onde é dito que um anjo conduzia o povo judeu pelo deserto (Ex 23,20), e também na passagem já referida sobre a luta entre o anjo dos Judeus e o anjo dos Persas (Dan 10, 13-21).

É também o que ensina São Basílio: “Entre os anjos, uns são prepostos às nações; os outros são companheiros dos fiéis”. ( Apud Card. J. DANIELOU, Les Anges et leur Mission, p. 93. )

São Miguel Arcanjo era o protetor de Israel enquanto povo eleito (Dan 10, 13-21); atualmente ele é o protetor do novo povo de eleição, a Igreja. As aparições de Nossa Senhora em Fátima. foram precedidas pela do Anjo de Portugal.


Efeitos da custódia dos anjos

Os efeitos da custódia dos anjos são, uns corporais, outros espirituais, ordenados, uns e outros, à salvação eterna do homem.

Os efeitos são corporais, na medida em que impedem ou livram dos perigos ou males do corpo, ou auxiliam os homens nas questões materiais, conforme consta no livro de Tobias (cap. 5 e seguintes).

E são espirituais, sempre que os anjos nos defendem contra os demônios (Tob 8, 3); rezam por nós e oferecem nossas preces a Deus, tornando-as mais eficazes pelas sua intercessão (Apoc 8, 3; 12); nos sugerem bons pensamentos, incitando-nos assim a fazer o bem (At 8, 26; 10, 3ss),[2] por meio de estímulos da imaginação ou do apetite sensitivo; do mesmo modo, quando nos infligem penas medicinais para nos corrigir (2 Reis 24, 16); ou ainda, na hora da morte, fortalecem-nos contra o demônio; os anjos conduzem diretamente para o Céu as almas daqueles que morrem sem precisar passar pelo Purgatório, e levam para o Paraíso as almas que já passaram pela purgação necessária; eles também visitam as almas do Purgatório para as consolar e fortalecer, esclarecendo-as glória do céu, etc.

A custódia dos anjos nos livra de inúmeros perigos tanto para a alma como para o corpo. Entretanto, ela não nos livra de todas as cruzes e sofrimentos desta vida, que Deus nos manda para nossa provação e purificação; nem daquelas tentações que Deus permite para que mostremos nossa fidelidade. Porém eles sempre nos ajudam a tudo suportar com paciência e vencer com perseverança.

Às vezes parece que os anjos não nos estão atendendo; é preciso então rezar com mais insistência até que esse socorro se perceba. Mas pode ocorrer de não sermos ouvidos, não porque faltem aos anjos poder ou desejo de nos ajudar, mas é que aquilo que estamos pedindo não é o melhor para a nossa eterna salvação, que é o que antes de tudo eles procuram.


Nossos deveres em relação aos Santos Anjos Custódio

São Bernardo resume assim nossos deveres em relação aos nossos Anjos da Guarda:

a. Respeito pela sua presença. Devemos evitar tudo o que pode contristar um espírito assim puro e santo. Sobretudo, evitar o pecado.

“Como te atreverias — interpela o santo Doutor — a fazer na presença dos anjos aquilo que não farias estando eu diante de ti?"

b. Confiança na sua proteção. Sendo tão poderoso e estando continuamente diante de Deus, e ao mesmo tempo conhecendo as nossas necessidades, como não confiar na sua proteção? A melhor maneira de provar essa confiança é recorrer a ele pela oração nos momentos difíceis, especialmente nas tentações.

c. Amor e reconhecimento por sua proteção. Devemos amá-lo como a um benfeitor, um amigo e um irmão, e ser agradecidos pela sua proteção diligentíssima.

“Sejamos, pois, devotos” — escreve o mesmo São Bernardo. “Sejamos agradecidos a guardiões tão dignos de apreço, correspondamos a seu amor, honremos-lhe quanto possamos e quanto devemos!” ( Apud Jesus VALBUENA O.P., Tratado del Gobierno del Mundo — Introducciones, p. 930. )

A oração por excelência para invocar e honrar o Anjo da Guarda da é o Santo anjo do Senhor:

“Santo anjo do Senhor, meu zeloso guardador, já que a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, guarda, governa e ilumina".

[1] Este livro da Sagrada Escritura é todo ele rico de ensinamentos sobre esta doutrina, de maneira que não basta transcrever aqui uma ou outra passagem dele; assim, convida-mos o leitor a lê-lo diretamente na Bíblia.

[2] Há vários exemplos disso na Sagrada Escritura: Os Atos dos Apóstolos relatam a aparição de um anjo ao Centurião Cornélio, homem religi oso e temente a Deus, para instruí-lo sobre como proceder para conhecer a verdadeira religião: "Este (Cornélio) viu claramente numa visão. quase à noa, que um anjo de Deus se apresentava diante dele, e lhe dizia: Cornélio ... as tuas ora ções e as tuas esmolas subiram como memorial à presença de Deus. E agora envia homens a Jope a cham ar um certo Simão que tem por sobrenome Pedro ... ele te dirá o que deves fazer" (At 10, 1-6). E nos mesmos Atos se lê como um anjo inspira São Filipe Diácono a desviar-se de seu caminho, para fazê-lo encontrar-se com o ministro da Rainha Candace, da Et iópia, e batizá-lo, depois de instruí-lo na doutrina cristã (At 8, 26)

DOUTRINA ESPIRITUAL DA BEM-AVENTURADA ELISABETE DA TRINDADE






É através de suas cartas que conhecemos a espiritualidade de Elisabete da Trindade, formada por três elementos básicos.

1º elemento - É fundamental sair de si mesmo. Ela ensina a libertar-se de tudo que possa nos prender. Esquecer-se de si mesmo "para fixar-me em vós", dirá Elisabete. A alma mais livre é aquela que se esquece mais de si mesma. Por isso, é necessário purificar a nossa vontade, trabalhar a nossa vontade.

2º elemento - Atrair as almas para o recolhimento, o silêncio interior. O silêncio é a maior expressão da contemplação. É por ele que se chega à unidade de todo o nosso ser e a unidade de nosso ser com Deus. É no silêncio interior que se vive a intimidade com as três pessoas divinas.

3º elemento - Ir a Deus pela fé; ser louvor de glória, como era o seu lema. Ser louvor de glória é ser uma alma que permanece em Deus; é estar com Deus num profundo silêncio. O sofrimento também canta os louvores, sempre em ação de graças. Ser louvor de glória é ser uma alma que canta sempre.

Elisabete, por ser tão intimamente unida a Deus Trinitário, irradia Deus. Não precisa de palavras, basta a sua presença e tudo se explica. Por isso, o apostolado de Elisabete era a sua própria vida de união com Deus.

Irmã Elisabete é uma alma que se transformou dia a dia no mistério trinitário. Enamorada por Jesus Cristo, que é "seu livro preferido", eleva-se à Trindade, até que "Elisabete desaparece, perde-se e se deixa invadir pelos Três". "A Trindade: aqui está nossa morada, nosso lugar, a casa paterna de onde jamais devemos sair… Encontrei meu céu na terra, posto que o céu é Deus e Deus está em minha alma. No dia em que compreendi isto, tudo se iluminou para mim".

"Crer que um ser que se chama Amor habita em nós a todo instante do dia e da noite, e nos pede que vivamos em sociedade com Ele, eis aqui, garanto-vos, o que tem feito de minha vida um céu antecipado". Amou intensamente sua vocação carmelita e também amou e imitou a "Janua Coeli", como chamava Nossa Senhora. Andou a passos largos no caminho da perfeição. Faleceu no dia 9 de novembro de 1906, vítima de úlcera estomacal, sussurrando, quase cantando: "Vou à luz, ao amor, à vida".

ORAÇÃO:

Deus, rico em misericórdia, que revelastes à beata Elisabeth da Trindade o mistério de vossa presença escondida na alma do justo, e dela fizestes uma adoradora em espírito e verdade, concedei-nos, por sua intercessão, que também nós, perseverando no amor de Cristo, mereçamos ser transformados em templos do Espírito de Amor, para louvor de vossa glória. Amém.

Beata Elisabeth da Trindade, rogai por nós!