Com a celebração da Quarta-Feira de Cinzas, iniciamos o período da Quaresma, durante o qual somos chamados a contemplar com renovado ardor o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, que Se faz presente na Eucaristia. E de um modo especial, a Quaresma assume ainda mais o valor de tempo mais do que propício para se realizar um autêntico caminho de conversão, uma plena metanóia, a fim de que com o coração arrependido e com bons propósitos em nossas almas, retornemos com passos largos à Casa do Pai.
Com a imposição das cinzas, somos novamente advertidos de que “somos pó e em pó haveremos de nos tornar”(Gn 3,19). Não temos aqui, nesse mundo, morada definitiva. Somos retirantes e estamos peregrinando em direção à Pátria definitiva. E nessa caminhada somos alimentados com o Corpo e o Sangue de Cristo. “A participação na Eucaristia permite-nos antecipar de algum modo o céu na terra... A comunhão eucarística foi-nos dada para nos saciarmos de Deus sobre esta terra, à espera da saciedade plena no céu.”(Mane Nobiscum Domine,19)
A conversão do nosso coração deve ser prioridade nesse período quaresmal. Devemos abandonar tudo aquilo que atenta contra a presença de Deus, e por meio da realização de gestos concretos de caridade, alcançarmos uma mudança de mentalidade que nos impulsione em direção a uma identificação plena com o Cristo. Sabemos que inúmeras práticas cristãs que são praticadas na quaresma, entre elas, o jejum, a mortificação e a abstinência, são desprezadas aos olhos do mundo. A própria vivência do espírito quaresmal é considerada insanidade aos olhos do mundo.
É por isso que na audiência da quarta-feira de cinzas do ano de 2001, o Santo Padre, o Papa João Paulo II, nos advertia: “No ambiente secularizado que nos rodeia, o caminho quaresmal exige um esforço de vontade cada vez mais forte. Na vida de cada dia, corremos o risco de nos deixarmos absorver por preocupações e interesses materiais. A Quaresma é a ocasião favorável para despertar a fé autêntica, para a saudável recuperação da relação com Deus e para um compromisso evangélico mais generoso. Os instrumentos à nossa disposição são os de sempre, mas nestas semanas devemos recorrer a eles de forma mais intensa: a oração, o jejum, a penitência e a esmola, ou seja, a partilha com os mais necessitados, daquilo que possuímos.”
Devemos gravar com fogo em nossas almas a certeza de que essa Quaresma deve ser para cada um de nós um tempo forte de encontro com Cristo, presente no sacramento do seu Corpo e do seu Sangue. Devemos também gravar a ferro a sã consciência de que nessa Quaresma Jesus Cristo nos propicia uma oportunidade única para programar tempos de reflexão, de análise e de verificação sobre a devoção eucarística pessoal. É necessário que nos questionemos: Sei dobrar meus joelhos diante do Santíssimo e reconhecer em Cristo o único Deus que orienta o meu pensar e o meu agir?
Devemos também realizar alguns sacrifícios, ou seja, fazer aquilo que não gostamos em prol do bem-estar do nosso próximo. Como sugestão, seria bom que reservássemos algum tempo, no decorrer desses quarenta dias, para visitar os doentes nos hospitais, ou os idosos, em algum asilo. Para essa Quaresma, o Santo Padre, o Papa João Paulo II nos propõe o desafio de se redescobrir a grandeza dos anciãos. Ele nos pede, pessoalmente: “Durante a Quaresma, ajudados pela Palavra de Deus, reflitamos sobre a importância de que cada Comunidade acompanhe com sua compreensão amorosa todos os que envelhecem.” (Mensagem para a Quaresma de 2005). Como Igreja doméstica, como estamos tratando os nossos anciãos? Em nossos lares, nossos idosos estão tendo direito a um lugar aprazível de convivência fraterna?
Oração, jejum, penitência, esmola e outras práticas cristãs devem preencher os nossos dias nesse período quaresmal. Certamente, a docilidade ao Espírito Santo suscitará inúmeras outras. “O esforço ascético dirigido à purificação da alma estimula as energias dos fiéis e os prepara a participar com melhores disposições do augusto sacrifício do altar e a receber os sacramentos com maior fruto, e a celebrar os sagrados ritos, de modo a torná-los mais animados e formados para a oração e para a abnegação cristã para cooperar ativamente nas aspirações e nos convites da graça, para imitar cada dia mais a virtude do nosso Redentor.” (Mediator Dei, 32)
Cristo, nessa Quaresma, nos convida a uma profunda renovação interior. Ele caminha conosco e nos aquece o coração. No decorrer dessa caminhada quaresmal, que saibamos dizer a Ele: “Tu, divino Peregrino, perito de nossos caminhos e conhecedor de nossos corações, não nos deixes prisioneiros das sombras da noite. Ampara-nos no cansaço, perdoa os nossos pecados e orienta os nossos passos pelo caminho do bem.” (Discurso do Papa no encerramento do 48º Congresso Eucarístico de Guadalajara). E que Maria Santíssima, a Mulher Eucarística, nos conduza em direção ao sacramento da Eucaristia e nos torne, assim, capacitados a acolher com entusiasmo o Cristo que caminha conosco, e a celebrar com dignidade a sua presença real no Mistério Eucarístico.
Concluindo, podemos afirmar que a Quaresma é uma boa ocasião para crescermos em graça e em santidade. A Quaresma é um estímulo para introduzirmos o apreço pela adoração eucarística em nossas vidas, é um convite especial para se contemplar o rosto sofredor de Cristo e, em comunidade, se unir em oração, empenhando-se na concretização do Mandamento do Amor.
Em oração, que saibamos dar graças a Deus Pai, que nos concedeu o dom de vivenciar o tempo quaresmal. E utilizando a oração da Liturgia das Horas, “supliquemos que durante estes dias de salvação Ele purifique os nossos corações na caridade pela vinda e ação do Espírito Santo. Digamos, pois, cheios de confiança: Cristo, Pão da Vida e remédio que nos salva, dai-nos Vossa força! Amém!”
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