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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O SONO: Uma lição do Amor de Deus para nós




5 horas da manhã. Acordo para mais um dia de missão. É domingo e a cama me convida a ficar mais tempo com ela, mas o dever me chama. Como reluta este meu corpo a fazer seu trabalho! Tudo está envolvido pela  luz laranja do Sol que já começa a raiar e que brilha através da janela do meu quarto. As estrelas se foram, mas o sol não surgiu de todo, e o sono insiste em abraçar-me. 


   

Sento na beira da minha cama tentando desenvolver uma teologia do sono. Por que Deus nos projetou de tal forma que tivéssemos necessidade de sono? Dormimos durante um terço das nossas vidas. Gastamos um terço das nossas vidas como mortos. Basta pensar em tudo o que está sendo deixado de lado, mas que poderia ser feito, se Deus não tivesse nos projetado para precisar de sono.

 

 Certamente não há dúvida que Ele poderia ter nos criado com nenhuma necessidade de sono. E apenas pense: todos poderiam se devotar a duas carreiras e não sentirem-se cansados. Todo mundo poderia servir a Deus em tempo integral e ainda manter o seu trabalho e fazer mil e uma coisas. Poderíamos nos envolver em muitas coisas dos negócios do nosso Pai.

 
Por que Deus imaginou o sono? Ele nunca dorme! Ele não teve essa ideia do nada, com certeza.Como tudo em Deus tem um objetivo bem claro Ele deve ter um sentido para nosso cansaço tão humano. Deus criou o sono pensando nas suas criaturas terrenas, e deu-nos algumas limitações, dentre elas o sono para nos ensinar a depender Dele. Mas por quê? 

O Salmo 127,2 diz: “Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão que penosamente conseguiste; pois aos seus amados Ele dá o necessário enquanto dormem”


De acordo com esse texto, o sono é um dom de Amor, e um dom que é frequentemente desprezado pela nossa labuta ansiosa e por nosso ativismo. Um sono tranquilo é o oposto da ansiedade. Deus não quer que seus filhos sejam ansiosos, mas que confiem Nele. Portanto, concluo que Deus criou o sono como um lembrete contínuo de que não deveríamos ficar ansiosos, mas descansar Nele. Depois do trabalho do dia, sempre devemos dormir confiando de que aquilo que não pudemos fazer Ele o fará.

 


Sono é um lembrete diário, da parte de Deus, de que não somos Deus. “É certo que não dormita, nem dorme o guarda de Israel” (Sl 121,4)
Mas Israel dormirá.Nós precisamos dormir, descansar!  Não somos Deus! Uma vez ao dia Deus nos envia para a cama como pacientes com uma doença. A doença é a tendência crônica de pensar que estamos no controle e que nosso trabalho é indispensável. 


Para nos curar dessa doença Deus nos transforma em sacos indefesos de areia uma vez por dia. Quão humilhante ao executivo corporativo autossuficiente ter que entregar todo o controle e ficar tão mole quanto um bebezinho todo dia.Como é humilhante para mim cansar quando eu quero fazer e fazer pelo Reino de Deus. Mas eu preciso dormir, porque o Pai quer me ensinar sua lição diária de que eu dependo Dele.

 

O sono é uma parábola que Deus é Deus e nós meros homens. Deus cuida do mundo numa boa enquanto o hemisfério dorme. O sono é como um disco quebrado que toca a mesma mensagem todos os dias: O homem não é soberano.... O homem não é soberano.... O homem não é soberano.....

 Não deixe que a lição se perca em você. Deus quer que confiemos Nele como o grande trabalhador que nunca se cansa e nunca dorme. Ele não fica impressionado com as nossas noites acordadas nem quando madrugamos cedo; mas ele se deleita com a confiança tranquila de um filho velado por sua Mãe, que lança toda a ansiedade Nele e dorme. 




Meu exercício diário para curar meu ativismo é dizer ao dormir:"Jesus, não fiz tudo que eu devia , nem tudo que eu gostaria, mas eu entrego aos Teus cuidados o que não posso fazer. Eu confio em Vós!" Como isso me ajuda em minhas ansiedades!
Saibamos que, sendo humanos cansamos.Quando o cansaço bate à nossa porta, muitas vezes, parece que nossa esperança se desvanece. E como é maravilhoso saber que Jesus se preocupa conosco em todas as situações da nossa vida, principalmente quando as nossas forças nos abandonam.

“Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso” (Mateus 11, 2).

 
Corramos ao encontro do Senhor, pois Ele vem ao nosso encontro pronto a nos socorrer e a nos aliviar dos fardos que pesam sobre nós. Abramos o coração à Palavra de Deus, que é verdade e vida:

“Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mateus 11, 29-30).Sejamos dóceis ao convite de Jesus neste dia deixando-nos ser cuidados por Ele.


Ah! E quando o sono vier hoje de novo faça esse exercício de dependência de Deus: Durma no colo Dele. O colo de Jesus é o melhor travesseiro do mundo!


Bom dia e depois bom sono a todos!


sexta-feira, 24 de agosto de 2012

JESUS E O HUMANO AMOR DE DEUS: Uma meditação sobre a humanidade de Jesus


Existe uma canção bem antiga que me toca bastante. Ela diz:

"O Verbo virou gente, e habitou entre nós
cheio de graça e de verdade
E vimos sua Glória
Como a do Pai"

Toda vez que escutei essa canção me chamou a atenção o termo, "virou gente" em vez de "fez-se carne", o que me fez meditar no que é ser gente, ser humano. Jesus tornou-se homem de uma maneira completa.Jesus, o Filho de Deus, foi revestido de carne! Jesus era,
é, e sempre será o Filho de Deus; mas no momento de seu nascimento, Ele Se tornou o Filho do homem.



Seu nascimento não foi o marco da Sua origem, mas apenas Seu aparecimento como homem no palco do tempo. Jesus, em sua Encarnação, foi o ponto de encontro da Eternidade com o tempo, a combinação perfeita da Divindade com a humanidade, a junção do Céu e da terra. Ele consentiu em não simplesmente nascer, mas ser totalmente humano, de modo que pudesse morrer. Sendo Deus, Ele Se tornou homem. Ele era o Filho de Deus, mas tornou-Se o Filho do homem.


São João escreveu que “o Verbo se fez carne, e habitou entre nós” (Jo1,14 aEm outras palavras, Deus tornou-se homem; o Divino Filho tornou-Se um judeu; o Todo-poderoso apareceu na terra como um indefeso bebê humano, incapaz de fazer mais do que ficar deitado em Sua cama, olhando fixamente, retorcendo-Se e balbuciando como qualquer criança. 


Ele precisava ser alimentado, precisava que Suas roupas fossem trocadas por alguém, e precisava aprender a falar como qualquer outra criança. Isso não era uma ilusão ou uma decepção; a primeira infância do Filho de Deus era uma realidade. Quanto mais se pensa
nisso, mais assombroso se torna. É por causa da descrença – ou pelo menos a fé inadequada – na encarnação que as pessoas têm dificuldades de entender as verdades reveladas nos Evangelhos. Uma vez que a encarnação é aceita como uma realidade, as outras dificuldades são superadas

Quantas vezes nós, quando falamos "não sei se isso é na minha humanidade", sempre expressamos o termo humanidade sob um aspecto negativo. Mas sempre vi essa palavra como uma das grandes características de Jesus. Humanidade no melhor que essa palavra evoca.Eu tenho como referencial de humanidade Jesus e nele quero ficar, pois quero, como pessoa, ser parecido com Ele. 

A proposta de Jesus, antes de ela ser sobrenatural, é natural. É uma proposta de que sejamos verdadeiramente gente, humanos conosco mesmos, para ai entendermos como é que Deus ama, como Deus age, e ai sim, nos parecermos, em nossa humanidade, parecidos com Ele. Jesus tem um jeito muito peculiar, muito especial de olhar para o ser humano. 



Quando o Filho de Deus veio como homem a Terra há mais de dois mil anos atrás, encontrou um complicado sistema político, pessoas orgulhosas e grupinhos que só tinham interesses pessoais diante de seus olhos. Com certeza tudo isso deve ter marcado o coração tão amoroso de Cristo. Mas diante de toda esta situação de sua época, Jesus nunca desistiu de amar, de ser plenamente humano na simplicidade de seus atos cotidianos.


Foram 33 anos de sua vida terrena, dos quais 30, viveu ocultamente, no trabalho simples de cada dia. Imagino quanta grandiosidade Jesus passava fazendo coisas pequenas, porque as fazia com um imenso amor. A Obra da redenção humana culmina na Cruz, mas com certeza foi iniciada na simplicidade de Nazaré. 



Jesus redimiu nossa vida cotidiana, espalhando seu Amor em cada pequeno trabalho, em cada palavra, em cada olhar. Um Deus que trabalhou, se cansou, se alegrou, descansou como um homem comum. 

Jesus com seu jeito simples de ser Homem revelava aos corações seu jeito amoroso de ser Deus.Um Deus que amou e amou até o fim.Deus se faz homem em Jesus, e nos mostra o ser humano que Ele sempre quis que fossemos.Por isso a proposta de Jesus é tão fantástica, tão bonita.Ela tem o poder de mudar o mundo sabe por quê? Porque quando a proposta de Jesus é aplicada, as pessoas ficam mais amáveis, generosas, pacientes, humildes, tolerantes, solidárias, fraternas, ou seja, mais HUMANAS.


Quando Deus entra em nossa vida , a primeira coisa que Ele faz é modificar nossa forma de olhar para as pessoas e para nós mesmos. E quando isso acontece , quando o nosso olhar se torna semelhante ao olhar de Jesus, naturalmente nosso comportamento será parecido com o Dele também, porque Ele se torna o nosso referencial de sermos gente. Nosso jeito de olharmos para as pessoas, nosso jeito de sermos humanos será à partir da humildade e da simplicidade Dele.

O caráter de Jesus nos leva a olhar para o outro e enxergá-lo como um ser humano, digno se ser amado e respeitado.E ai de que valeria nosso cristianismo se nos não soubermos viver com serenidade, se não olhamos para aqueles que estão ao nosso redor com respeito, com amor com carinho, como fez Jesus. 

 

Jesus nos ensina com o exemplo de sua vida, que Deus é totalmente dedicado ao ser humano, ao ponto de entregar a morte e receber o salário dos pecados da humanidade, esta desfigurada, sobre si mesmo.

Morrer na Cruz como um malfeitor demonstrou que Jesus desceu até o limite dos abismos humanos para levar a luz cálida de sua Misericórdia a humanidade caída por suas próprias más escolhas na escuridão do desespero.Jesus, levou humanidade onde nós havíamos nos desumanizado, levou esperança onde nós mesmos havíamos decretado um ponto final.




Ele Se submeteu à morte. Sem se submeter à morte, Ele não poderia ter sido plenamente humano. Ele se identificou completamente com o homem. Submeteu-Se ao pior tipo de morte, morte numa cruz. Eu não quero morrer sofrendo. E você? Neste sentido, não somos como Jesus. Ele Se submeteu a uma morte torturante e dolorosa – de vontade própria, voluntariamente e sem coerção, assumindo todo o sofrimento humano em sua totalidade.


Jesus, o Homem-Deus, tornou Santo o que antes era maldito.Fez da sua cruz o seu altar, onde Ele mesmo foi o Sacerdote e a Vítima.O Altar cruento da cruz foi o lugar escolhido por Deus para a nossa remissão, para a nossa reconciliação com nossa própria humanidade decaída e com o Amor Misericordioso do Pai. A Cruz foi o lugar onde o Homem-Deus morreu para que o direito à VIDA nos fosse restituído em plenitude.Outrora, éramos escravos do pecado, mas com Jesus, pelo seu Santo Sacrifício da Cruz, fomos libertos.




Jesus, do alto da Cruz exclamou:TENHO SEDE! Como disse uma vez Santa Teresinha, não era sede de água que reclamava o Filho de Deus. Era uma sede de vidas…Sede de almas…Sede dos que se encontram no pecado…Sede dos que se encontram caídos e abatidos!

Por isso se Deus amou sua humanidade até o extremo de assumi-la e redimi-la na Cruz, assuma a Graça que hoje Jesus dá a você de ser HUMANO no melhor sentido que essa palavra adquiriu quando Ele se fez Homem e nos mostrou como sê-lo também.

Bom dia a todos!

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

AMOR A CRUZ




"Queira torna-te, no padecer, algo semelhante a este nosso grande Deus, humilhado e crucificado, pois que esta vida só tem razão de ser se for para imitá-lo. Tal é a alma que está enamorada de Deus. Não pretende vantagem ou prêmio algum a não ser perder tudo e a si mesma, voluntariamente, por Deus, e nisto encontra todo seu lucro pois o amor não consiste em sentir grandes coisas, mas em despojar-se e sofrer pelo amado."

São João da Cruz, OCD

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

COMPAIXÃO: A arte de sentir a dor do outro


Talvez nós já tenhamos lido ou visto cenas e gestos em filmes, por exemplo, nos quais a compaixão de determinado personagem nos emocionou ou nos ensinou uma lição. E de repente nos vemos na dúvida, nos perguntando se teríamos a mesma reação, se teríamos a mesma compaixão. Teríamos? Então vejamos.
 
O que é a Virtude da Compaixão? Quando reconhecemos que uma pessoa tem a qualidade humana da compaixão queremos dizer que ela é capaz de perceber a angústia alheia como se fosse própria. Ter a qualidade humana da compaixão é ter cotidianamente uma abertura para as necessidades alheias. É ter essa sensibilidade que nos tira do envolvimento cotidiano com nossos interesses para nos interessarmos pelos demais em suas necessidades e angústias. Nenhuma ciência humana consegue explicar o fenômeno humano da compaixão.

 

A virtude da compaixão é uma virtude que deriva do amor. Ao desenvolvermos a virtude da compaixão como parte da nossa qualidade humana estamos desenvolvendo nossa capacidade de amar. Ter compaixão, portanto, é sinal de vida intensa, de amor. A falta de compaixão é prova de que, amando pouco, somos também pouco realizados, porque como é amar o que nos torna felizes e nos faz crescer e ser mais, não ter compaixão é sempre uma perda muito grande de qualidade humana.

 

Quando temos o valor da compaixão procuramos descobrir as necessidades das pessoas, os seus sofrimentos, mas sempre com uma atitude de permanente de serviço. Ou seja, não se trata de percebermos apenas aquelas circunstâncias dramáticas do noticiário para comentá-las, ( e muito menos aquelas que são apenas para “causar escândalo”, para fofocar), mas de perceber todas as situações nas quais podemos servir. A compaixão como todas as demais virtudes é um excelente caminho de melhora pessoal e felicidade, além de exercitar-nos nas obras de misericórdia corporais e espirituais, como nos pede Jesus.

Pontos Práticos da Virtude da Compaixão


1. Devemos a virtude da compaixão primeiramente àqueles que nos rodeiam ou que se apresentam ainda que transitoriamente na nossa vida familiar: desde os parentes, até o entregador das compras, passando pelo vizinho, colegas de trabalho, o atendente do banco, etc. Ou seja, a compaixão não é só para situações dramáticas, mas é também a virtude da solidariedade no gesto de oferecer um copo de água gelada para o entregador de compras porque vemos como está suando com o trabalho cansativo, por exemplo.

2. Ao ajudar às pessoas, não devemos discriminá-las evitando negar-nos a quem necessite de nossa ajuda seja por causa de posição social, credo religioso ou grau de afeição e admiração que sinta. A compaixão nos faz ser úteis de verdade a todos. 



 

3. Ainda que a compaixão nasça do interior do homem devemos criar consciência da necessidade de ajudar aos demais em suas necessidades na vida em sociedade.

4. Além de criar consciência devemos praticar esses pequenos gestos cotidianos de compaixão pelos demais que se oferecem diariamente à nossa compaixão sem preguiças ou regateios.

5. A compaixão não pode esperar para ajudar, sente a necessidade de atuar, de compreender e de calar quando for o caso. Jesus se cala quando o condenam num exemplo de perdão e compreensão para com aqueles que o maltratavam.

6. Na verdade informar, com caridade, desde um pequeno detalhe como avisar que uma casca de feijão ficou no dente, até chamar a atenção, discretamente, para que um determinado comportamento ou roupa estão inapropriados para aquele amigo por estarem vulgares, por exemplo são prova de fraterna compaixão pelos demais.

7. Na vida em sociedade, a compaixão deve também se traduzir em compreensão para com a maneira de ser e sentir dos demais e assim gerar em nós uma atitude de constante consideração para com os demais sem críticas e julgamentos precipitados e ácidos.

8. Lembrar-se que a maior ajuda que se pode dar a uma pessoa é aproximá-la de Deus.

9. Ser sensível não é sentir com queixas, acusações e impaciências tudo o que nos incomoda como indevido. É exatamente o contrário: é saber ver e ouvir a realidade, é sair de si mesmo para ver em volta, para entender aos demais e, portanto, não sobrecarregar os demais com nossas exigências sempre que isso for possível. Ser "sensível" somente das nossas mazelas é egoísmo. Se é compaixão ajudar os demais a carregar a própria cruz o é primeiramente não sobrecarregá-la com queixas, exigências desnecessárias, lamúrias, pretensões e altivez.

10. É compaixão não esquivar-se de comparecer a um enterro, missa de sétimo dia, etc.

 

Efeitos da Virtude da Compaixão

Na vida em sociedade a compaixão pode ser traduzida em todos esses atos simples de compreensão já citados como evitar julgar as faltas e os erros alheios, como participar ativamente da vida pública visando o bem comum.
 
Também é compaixão compreender que a falta de formação, de experiência, que as restrições de idade ou saúde, de cansaço, stress, etc., podem fazer com que as pessoas atuem equivocadamente. É uma grande prova de qualidade humana pela virtude da compaixão, ter uma atitude de confiança no outro apesar de um equívoco, oferecer o benefício da dúvida antes de condenar, deixar por menos uma resposta menos gentil, sempre oferecer um sorriso, etc. 


 

Quando nos lembramos de uma tia solitária, um idoso sem auxílio, de também convidar uma criança com menos oportunidade para um passeio, estamos desenvolvendo em nós a qualidade da compaixão. Ter compaixão vai além, portanto, de lamentar saber que ocorreu tal ou qual desgraça e nada fazer. A virtude da compaixão está em buscar meios de socorrer quem sofrem.

Podemos sempre rezar pelos que sofrem.

 

A compaixão, ao traduzir-se em um determinado serviço, deve visar o bem do outro e não a nossa comodidade. Ou seja, se visitamos alguém doente, o fazemos buscando proporcionar, ao doente, momentos agradáveis e não apenas por convenção social. Também não ficamos tratando de negócios ao celular, ou mostrando pressa e desconforto com a situação. Isto é continuar em si mesmo.

Por compaixão participamos das dificuldades materiais, pessoais e espirituais dos outros para ajudá-los e não apenas por curiosidade de saber o que aconteceu.

Devemos empreender ações concretas de interesse, ajuda e compreensão. Há uma tendência, na sociedade de consumo, a desenvolver dependências, as mais variadas, em relação ao lazer, ao consumo e à preocupação consigo mesmo que chega muitas vezes a níveis patológicos.

 

Uma sociedade que se paute pela compaixão e não pelo lucro, ou pela busca do prazer como única "cultura", importa-se com todos em especial com os destituídos e não corrobora ações de exclusão social em nome da ganância ainda que venham disfarçadas de "progresso", "ciência", "globalização", etc.

Também nas grandes tragédias que ocorrem no mundo demonstramos compaixão participando das campanhas necessárias ao socorro das vítimas. 


Desenvolver o hábito de sentir constantemente compaixão pelos outros na vida em sociedade, evitará que nos tornemos pessoas insensíveis e frias. A indiferença sistemática pelos demais fortalece o egoísmo e nos torna indolentes e centrados unicamente no nosso bem estar e logo ficaremos muito sozinhos e pessoas de desagradável convívio.

Como é a pessoa sem Compaixão



A pessoa sem compaixão busca viver no imediatismo e absorvida nos seus interesses evitando envolver-se com as angústias dos outros. E faz isto sob os mais diferentes pretextos ou desculpas, como estar ocupada, não ser da conta dela, "ter que trabalhar", etc.

Endividamentos, vícios, dependência de toda sorte de "consolações providas pelo consumo", cultivo do próprio corpo, etc. impedem o desenvolvimento da virtude da compaixão. Tudo isto supera facilmente a compaixão pelo outro. Muitos não se importam com os destituídos e ainda tramam pelo seu extermínio adotando políticas que os desfavorecem, ou, para defender seus interesses de lucro, não consideram as conseqüências de suas omissões ou opções. Essa "cultura de consumo" não tem interesse em valorizar qualidades humanas como a compaixão porque esta vai diretamente contra interesses de lucro. 


O modelo de todos os seres humanos é sempre Cristo que teve e tem compaixão com todos os homens. "Tens obrigação de aproximar-te dos que estão à tua volta, de sacudi-los da sua modorra, de rasgar horizontes diferentes e amplos à sua existência aburguesada e egoísta, de lhes complicar santamente a vida, de fazer se esqueçam de si mesmos e compreendam os problemas dos outros. Senão, não és bom irmão dos teus irmãos, os homens, que estão precisados desse gaudium cum pace - desta alegria e desta paz, que talvez não conheçam ou tenham esquecido." (Forja, ponto 900, São Josemaría Escrivá, o Santo da Vida Cotidiana)

Como dizia São Francisco, comecemos com o que é possível, e logo Deus nos dará a graça do impossível.Bom dia a todos!

JESUS: Um olhar de poeta para a humanidade




Certa vez olhei de forma mais detalhada um antigo ícone bizantino que mostrava um olhar sereno e profundo de Jesus Cristo. Era mágico! Senti-me completamente absorvido por este olhar que me falava tanto em silêncio, e transmitia a minha alma sentimentos de paz e alegria. Aconselho que façam a mesma experiência quando possível. Naquele instante vislumbrei um aspecto de Jesus pouco lembrado pela literatura cristã: A de um Poeta. Sim, um poeta diferente daqueles que estamos habitualmente acostumados, um exegeta da alma humana. Mas o que é ser poeta?

 



O poeta é muito mais do que fazedor de rimas e métricas, ele é um revelador dos sentimentos da alma, um fabricante de sonhos, alguém que consegue algo muito raro, principalmente nos dias de hoje, ver o que os olhos não enxergam. Por isso a verdadeira poesia é atemporal, perene, consegue eternizar instantes. 

Um ser humano normal quando olha uma pintura de algum gênio da arte abstrata, não vê senão traços desconexos, riscos perdidos de um pincel, algo sem sentido; mas o que diria um poeta? Penso que em poucos segundos, ele conseguiria ver o que está além das aparências, sentimentos impressos em cores variadas, talvez rostos alegres ou semblantes sofridos, até mesmo uma paisagem perdida dos nossos olhos.


 A verdade é que ele conseguiria transcender os sentidos e perceber o belo, em sua essência, pois o poeta tem um olhar que penetra as aparências e revela o sentido profundo das coisas que enxerga. 


Jesus Cristo era assim! Imaginemos o olhar de Jesus quando ele proclamava as maravilhas do Reino dos Céus, em seu encontro com aquela mulher adúltera, julgada impiedosamente por uma multidão enraivecida, ou mesmo quando realizava o milagre de resgatar vidas até então destruídas por uma sociedade profundamente excludente.



Jesus jamais se deteve na faixa escura que cerrava os olhos dos seus companheiros de caminhada humana. Em Bartimeu, o cego de Jericó, não encontra o homem inutilizado pelas trevas, mas sim o amigo que poderia tornar a ver, restituindo- lhe, desse modo, a visão que passa, de novo, a enriquecer-lhe a existência.


 Em Maria Madalena, não enxerga a mulher possuída por demônios e vícios, mas sim a irmã sofredora, e por esse motivo, restaura-lhe a dignidade própria, nela plasmando a beleza espiritual renovada que lhe transmitiria mais tarde, a mensagem divina da Ressurreição eterna. O olhar cheio de amor e ternura para os pobres e pequeninos de sua época ainda hoje impressiona e apaixona gerações.

 Era apaixonante ser envolvido pelo olhar de Jesus. Quem o visse, nunca mais seria o mesmo. Ele mesmo disse: “Vinde a mim, vós que estais cansados e sobrecarregados sobre o peso de vossos fardos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas.” (Mt 11, 28-29)



Jesus era o poeta por excelência! Ele conseguia sentir o que ninguém jamais sentiu sobre a nossa humanidade.A misericórdia em seu olhar era tão abundante e profunda que todos que o olhavam nos olhos sentiam-se amados e acolhidos. Ele tocou quando os outros se afastaram, pois nenhuma ferida humana pode afastar seus olhos cheios de amor de contemplar a humanidade com olhos de poeta, olhos que vêem além, olhos que enxergam o coração.
Jesus era especialista de, com um único olhar, restaurar a esperança da alma dos que dele se aproximavam.Posso imaginar uma multidão de pessoas se atropelando, querendo chegar mais perto. Tenho certeza que alguns desses não queriam pedir ou exigir alguma coisa, mas queriam simplesmente dizer um "obrigado" pela esperança renovada por aquele jovem Rabi, de olhar profundo e poético.

O seu olhar não era de condenação, mas de acolhimento, a sua poesia estava impressa em toda a sua vida. Imaginem a alegria que Zaqueu experimentou quando, inesperadamente, foi alcançado por esse olhar misericordioso. A salvação entrou em sua casa, porque o olhar do Mestre não o condenara. 


Sim, este olhar revelava um amor nunca antes anunciado: O amor do Pai, cheio de ternura e compaixão, amor que busca o que está perdido, amor apaixonado e misericordioso. Creio que essa foi a maior arte de Jesus. A poesia do amor do Pai declamada por Ele com sua vida fazia as pessoas ao seu redor voltarem a sonhar, a verem a realidade não com uma capa cinza do desespero, mas sob a ótica do amor do Pai.
 
Precisamos de poetas da fé cristã, que consigam ter o mesmo olhar amoroso de Jesus. Não podemos perder a compaixão que nos é tão cara, a sensibilidade de perceber as nossas hipocrisias religiosas, bem parecidas com as dos fariseus em outras épocas. 


Os cristãos precisam ser mais imbuídos de poesia, não para afastá-los da realidade “nua e crua”, mas ao contrário, para devolver a cada um de nós a capacidade de ver o mundo como ele realmente é:  Belo e trágico ao mesmo tempo!


O cristão-poeta é aquele que não permite que a sua espiritualidade e a sua fé se reduzam a práticas desconectadas da vida, repetições mecânicas de gestos, palavras, fórmulas...Não é a toa que a palavra "profeta" rima com "poeta". 


Todo profeta autêntico é um poeta, porque faz uma leitura apurada da realidade e do mundo ao seu redor. Onde estão os profetas de hoje, anunciadores e denunciadores dos que tentam extinguir a poesia da vida?


Que tal a partir de hoje, reescrever a realidade da sua existência com POESIA? Como? É só olha-lá com os olhos de Jesus, com seus olhos de Poeta...Esse olhar, sim, sabe ver a realidade sob o ângulo do Amor...


Dedico essa postagem a meu amigo e poeta Alexandre, do maravilhoso blog http://escrevendoesemeando.blogspot.com.br/, que já descobriu esses olhos a muito tempo. Obrigado por encher de poesia o caminho que me leva a Jesus...saudades