Na vida, muitas
vezes nós nos acostumamos com o fracasso, e nos esquecemos do sentido de para
que fomos criados. São muitos os olhares que espreitam, observando e esperando
a nossa queda.
O nosso próprio
olhar se desvia e, uma vez desviado, adentramos numa escuridão pavorosa. O medo
de não dar certo nos prende em territórios escuros, sem a menor intenção de
revelar as estrelas ou de preparar a aurora. O medo de errar deixa-nos na
inércia.
As quedas nos
impedem de dar passos quando não entendemos o seu verdadeiro significado. No
entanto, em meio a tantos olhares que nos olham depressa demais, sempre aparece
aquele olhar que nos devolve a capacidade de conhecer quem somos.
Olhos que nos
revelam os olhos de Jesus, olhar que vem dar significado a nós, olhar que nos
faz entender um pouco do que é o amor.
Dentre as
capacidades que temos uma das mais bonita, é a de recomeçar.
Recomeçamos porque não somos criados para o fracasso, para o erro, para a
perdição. Prova disso é que constantemente nos pegamos agindo assim, saindo da
rota que não nos leva a lugar algum; buscando forças para nos levantar de
nossas quedas.
Às vezes, é preciso
relembrar que podemos ficar em pé e caminhar outra vez. Tem dias que precisamos
de muito mais do que uma resposta pronta, precisamos de um olhar que nos ame. E
das outras coisas, o olhar amoroso toma conta naquele instante eterno. Esse
olhar amoroso vem de quem está disposto a se doar em amor a nós e, assim, nos reerguer.
O paradoxo do amor
é interessantíssimo: quanto mais se doa, mais se enche.
Deus nos conhece,
sabe de nossas necessidades, de nossas fragilidades; mas sabe também dos dons e
talentos que ele mesmo nos concedeu, sabe de nossas possibilidades.
Em seu infinito
amor misericordioso, quando nos vê cambaleantes, quando percebe que já não
acreditamos muito em nós mesmos, já não cremos que seremos capazes de seguir o
caminho pedregoso que nos fará felizes, Ele lança sobre nós o seu olhar de amor
.
Esse olhar chega sem
pressa, pois não quer o que está na superfície, não quer enxergar o mesmo que
estamos enxergando naquele momento de vazio, sofrimento causado exatamente
porque o nosso próprio olhar não vê mais com nitidez o solo santo que somos.
Deus nos olha sem
pressa, quer ver e nos mostrar novamente esse solo santo, quer que entendamos o
que somos, amplia a nossa autopercepção, devolve-nos a coragem de recomeçar,
devolve-nos o ânimo perdido.
Olhares de Deus que
vêm falar mais do que as palavras têm capacidade de dizer. Olhos que, ao nos
contemplarem, nos enchem de amor; e o amor faz com que recobremos as forças de
caminhar.
Olhos que nos mostram que não somos obrigados
a ficar com as migalhas do mundo, mas que somos convidados para o banquete que
Ele nos preparou. Não fomos criados para ficar no chão, muito menos para nos
acostumarmos com os fracassos da vida.
Um olhar que
ilumina escuridão pela qual devemos passar é aquela que nos indica a luz. Não
importa o que tem acontecido em nossa vida, Deus não nos criou para ficarmos
presos às derrotas.
Prestemos atenção
também no olhar de Deus através de tantas pessoas que Ele coloca em nossa vida.
Para demonstrar o amor que tem por nós, Deus coloca em nossas vidas alguns
anjos. Esses “mensageiros”, do latim “ângelus”, não possuem asas, mas conseguem
mostrar-nos e fazer viver a liberdade de um pássaro.
Não possuem
auréolas, mas as palavras que nos dizem indicam a presença do Espírito Santo,
transmitida em forma de tranquilidade, paciência e cautela. Nem sempre se
vestem de branco e, apesar de humanos, buscam a pureza em meio à insanidade que
todos os dias bate às nossas portas.
Buscam a aurora na
escuridão. A principal tarefa deles é mostrar a nós o que temos de melhor. E
isso é também, fazer de nós conhecedores de nós mesmos. É de suma importância
reconhecer nossos erros, nossos espinhos, nossas atitudes, mas Deus também vê
quando lutamos para dizer “não” ao abismo do pecado. Deus também vê que
enquanto participantes do seu caminho, tropeçamos, levantamos e continuamos a
segui-lo sem precisar de atalhos.
Eu encontrei um brilho
nos olhos de muitos irmãos e irmãs que me olharam, e sem perceber, esse brilho,
como um farol, indicou o caminho a um barco, indicou-me o caminho a Jesus.
Luzes que me atingiram quando eu não sabia que tinha forças para me levantar,
forças para encarar meus fracassos e procurar acertos.
Olhares que ainda me ensinam que não nasci
para ser amado de qualquer jeito, que não nasci para ser prisioneiro da
escuridão. Permitamo-nos ser amados do jeito certo, aceitemos os olhar de Deus
que nos devolver àquilo que temos de mais precioso: o direito de recomeçar.
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