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terça-feira, 6 de março de 2012

UM OLHAR SOBRE A CARÊNCIA AFETIVA

“Os pobres e necessitados buscam água, mas não há; a sua língua se seca de sede. Mas Eu o Senhor, os ouvirei, Eu, o Deus de Israel, não os desampararei”.  Jeremias 17,6



Todos nós, em maior ou menor grau, sentimos em alguma época da nossa vida, a tal da carência afetiva. Parece que algo está faltando. Sensação de vazio interior, isolamento, como se estivéssemos sozinhos neste mundo. Podemos estar rodeados de amigos, colegas de trabalho e com a família. A sensação pode vir com alguns sintomas depressivos: desânimo, falta de interesse pelas atividades que antes causavam prazer, vontade de se isolar.


 


Nós, seres humanos, temos uma grande necessidade de proteção e aconchego, principalmente na fase da infância. Nascemos nus, dependentes e pequenos. Nossos pais deveriam ser os primeiros a suprir nossas necessidades primarias de amor e afeto. No entanto, cada um tem um histórico de vida diferente. Alguns não sentem este amor materno ou paterno. E quando na infância a pessoa não foi desejada e amada o suficiente por seus pais,pode carregar consigo rejeição e tristeza.



O Grupo de Análise do Comportamento, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), através da psicóloga Lídia Weber, fez uma pesquisa com três mil crianças e adolescentes, onde analisou suas respostas aos questionários, preparados pelo grupo sobre a questão do afeto em família e constatou que 33% dos pais estão com seus filhos e lhe dão muito afeto. São participantes, envolvem-se com suas questões, assim como, lhes dão muitas regras e limites claros.  

Mas 45% dos pais são negligentes em relação aos filhos. São pais ausentes, que não dão regras, nem comandos e por outro lado, também não participam e não dão afeto.
A falta de afeto pode gerar futuramente problemas de comportamento nos filhos.  A afetividade determina a atitude geral da pessoa diante de qualquer experiência de vida, promovendo os impulsos motivadores e inibidores; fazendo com que ela perceba o mundo e a realidade de maneira agradável ou não. 


Assim é a afetividade: Ela é que dá tonalidade à vida e o ânimo ao indivíduo. É uma área do ser de onde provem as emoções, podendo ser desde a depressão até a euforia.


Deus nos fez com a capacidade de guardarmos lembranças de situações particulares, principalmente relacionados a emoções. Foi comprovado que quanto maior é uma emoção, seja ela positiva ou negativa, mas fixa-se na memória da pessoa que a sentiu o registro daquela emoção. é o que chamamos memória afetiva ou emocional. Gestos de carinho ou palavras amigas durante uma crise, o colo da mãe, o abraço do amigo, sentimentos bons da infância , mas também o abandono, as tristezas , as mágoas...tudo isso fixa-se na memória, gerando bem-estar ou sofrimento. Cada história vivida imprime sua marca no ser humano que nos tornamos à medida que crescemos.


A ciência cada dia mais constata uma razão biológica para justificar os benefícios do amor. Uma pesquisa realizada pela neuro-biologista Mary Carlson, da Harvard Medical School, revelou que a falta de afeto – e  contato  físico – atrapalha o crescimento infantil. A ausência de um afetuoso abraço, por exemplo, é capaz de desequilibrar os níveis de cortisol, hormônio que, entre outras funções, interfere na liberação do HGH, o hormônio de crescimento.

É muito fácil detectar uma criança ou um jovem que não recebeu a devida atenção, carinho e afeto. Suas atitudes denunciam a sua criação.  Pesquisadores afastaram alguns ratos do convívio materno e estes demonstraram desequilíbrio na secreção de cortisol, degeneração cerebral e perda de memória.
Da mesma forma, 60 crianças romenas de até três anos que viviam em orfanatos e creches, onde recebiam comida, agasalho e abrigo, mais não tinham toque e carinho, também apresentaram alterações nos níveis de cortisol.


 Quando nossas necessidades essências não são satisfeitas, permanece em nós uma área de carência, no sentido de falta, privação. Desta forma, há carências nas mais diversas áreas: cultural, de subsistência, de pertença, de proteção, de liberdade. Como a necessidade de amar e de ser amado é a mais importante no ser humano, a carência na satisfação desta necessidade ou sua satisfação inadequada é também a mais grave.

Esses tipos de falta manifestam-se, em geral, pela busca desordenada de atenção, afeto, reconhecimento, elogios. Freqüentemente provoca ciúmes, inveja, insegurança e reações de dominação e posse que estabelecem atitudes controladoras com relação ao outro e a co-dependência afetiva. O exagero na alimentação, na higiene, no vestir, podem ser formas indiretas de compensação (busca de satisfação) de tais carências.


Uma de suas conseqüências mais graves é a dificuldade em travar e manter relacionamentos maduros, sadios e abertos aos outros, o diálogo e a afetiva ordenação da vida para o amor como doação de si. A carência afetiva é amoral (neutra) em si mesma.


O que toma sentido moral é a forma como lidamos com ela, uma vez que nos impede de dialogar, de ordenar nossa vida para o amor, que nos congela na imaturidade e na insatisfação não nos importando o quanto nos cercam de cuidados e atenções. Uma vez popularizada, a “carência afetiva” tornou-se como um estigma para rotular pessoas desagradáveis no trato ou desafiantes no relacionamento.

É crucial lembrar que TODOS somos carentes afetivos de uma forma ou de outra e que esta carência, à nível de passado, jamais terá como ser adequadamente suprida, pois não temos como voltar o tempo.


 
O próprio Deus não a supre, mas, por sua graça, ordena-a para o amor, para a caridade (dá sentido novo). Isso é fundamental. A cura de uma carência afetiva vem através de sua ordenação para o amor, seja através do perdão e reconciliação, seja transformando-a em um tesouro, como se faz com o nosso passado, os limites, necessidades e fraquezas.

A grande cura das carências segue os seguintes passos:
  1. Reconhecimento (Reconhecer e admitir para mim mesmo que sou ferido emocionalmente, que tenho carências, que não recebi amor suficiente nessa ou naquela situação etc)
  2. Conhecimento; (Conhecer, a luz do amor de Deus, quais as feridas mais dolorosas de minha história de Vida)
  3.   Acolhida (Acolher-me como sou, com minhas feridas, carências e misérias, mas também me acolhendo como dom, como dádiva preciosa de Deus)
  4. Ordenar tudo para o amor: Fazer de minhas feridas uma porta aberta para o amor, exatamente onde fui ferido posso responder com o amor, ordenando tudo para sair de mim mesmo em favor dos outros.
O segredo é o amor a Deus e aos irmãos e não a substituição ou satisfação das carências a qualquer custo, como aconselham certas abordagens materialistas, mas seguir os quatro passos acima, dando-lhes sentido através do ordenar tudo para o amor.








Alguns trechos retirados do livro "Tecendo o fio de ouro"
Maria Emmir Nogueira- Com. Shalom

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