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terça-feira, 5 de junho de 2012

O respeito de Deus a liberdade humana


Não há dúvida de que a liberdade é um dos mais belos dons que Deus concedeu a nós, seres humanos. Quando nos criou, Deus nos amou tanto que nos deixou livres para acolhê-lo ou recusá-lo. Isto é grande prova de amor! E quanto mais conhecermos e experimentarmos este amor, mais nos sentiremos seguros para, livremente, optar pelo bem e pela verdade. 
Boa parte do ateísmo contemporâneo baseia-se na objeção enunciada com muita força no passado por vários filósofos, dentre eles Sartre, que afirmava: “Se Deus existe, não somos nada”. Dizia ainda: "Se existe um Deus onipotente, o que ainda sobra para mim? Essa presença ao meu lado do poder absoluto torna irrisórias todas as minhas ações. Diante do infinito, todo o finito torna-se irrelevante". Há muitas maneiras de enunciar o argumento.

A objeção foi formulada desde a Idade Média, mas não conseguiu convencer. A resposta diz que Deus e o homem não se situam no mesmo plano, como duas liberdades em competição.A resposta não convenceu porque durante séculos os teólogos debateram a questão da predestinação, isto é, da compatibilidade entre a liberdade de Deus todo-poderoso e a liberdade humana.


De qualquer maneira, muitas pessoas sentem o conflito entre a sua vontade, o seu desejo e o que pensam ser a Vontade de Deus. Este conflito faz nascer no coração humano muitas vezes a angústia, o medo e a culpa.


Isto porque muitos vêem a Vontade de Deus como algo repressor, que exige e constrange o homem a cumpri-la, ou então será condenado ao inferno.Muitos a veem como algo que devem fujir, pois para eles é como uma prisão.Nasce assim, no homem, um profundo medo de Deus e tem uma visão Dele como um opressor e manipulador.

Por isso os sartreanos sustentavam que, para ser livre, é necessário negar a existência de Deus. Infelizmente para eles, Deus não depende das negações ou das afirmações de Sartre.

A verdadeira resposta a essas objeções está naquilo que chamo "fraqueza" de Deus. O nosso Deus é um Deus “escondido” – tema constante da tradição espiritual cristã.É um Deus que se manifesta no meio da nuvem, que se faz perceptível, mas não impõe a sua Presença.

A liberdade consiste justamente nisto: diante do outro, a pessoa pára, reconhece e aceita que exista. Abre espaço, acolhe. Longe de dominar, escuta e permite que o outro fale primeiro. Assim Deus suspende seu poder em detrimento a liberdade humana.


Nenhuma evidência, nenhuma ameaça, nenhum constrangimento força nem obriga. Deus permite e deixa fazer. Deus respeita o outro na sua alteridade e permite, até mesmo, que o outro se destrua sem intervir. A liberdade de Deus consiste em permitir e ajudar a liberdade do menor dos seres humanos. A liberdade de Deus reprime o poder. Torna-se fraca para que possa manifestar-se a força humana.

O hino de Filipenses 2,6-11, núcleo da cristologia paulina, expressa essa fraqueza de Deus, pois o aniquilamento de Jesus incluía o aniquilamento do Pai: “Esvaziou-se a si mesmo e assumiu a condição de escravo, tomando a semelhança humana. E, achado em figura de homem, humilhou-se a foi obediente até a morte, e morte de cruz!” (Filipenses 2,7-8).

Cristo escondeu o seu poder até a ponto de as autoridades de Israel não o reconhecerem. É desta maneira que Deus se dirige às pessoas: sem intimidação, sem poder, na dependência de seres humanos, entregando a própria vida nas mãos de criminosos. Quem dirá que dessa maneira Deus faz violência às pessoas?

O outro é sempre o desafio da minha liberdade, a provocação que a desperta. Diante do outro há duas atitudes: examiná-lo para ver em que ele me poderia ser útil ou qual é a ameaça que representa para mim, ou então, perguntar-me o que eu poderia fazer para ajudá-lo.


Deus, em sua extrema liberdade, diante do homem e da sua rejeição, escolhe salva-lo. Mas isso sem força-lo a receber essa salvação. E eis que em sua liberdade Deus escolhe a Cruz como único caminho que, sem constranger a liberdade do homem, o redimiria. A cruz é manifestação do livre Amor de Deus que se doa por inteiro, sem exigir retribuição, sem cobrar...

Em sua pura gratuidade, a Cruz é o maior sinal do amor de Deus e do seu respeito na nossa liberdade. Como um Deus que se deixa crucificar poderia causar medo ao homem e força-lo a fazer a sua Vontade, se por amor já se torna vulnerável e fraco? Não, na cruz Jesus, que livremente deu a vida, convida o homem, de braços abertos, a acolhe-lo, sem violência, não por sua Força ou seu Poder, mas em sua "fraqueza".


A liberdade de Deus autolimita-se. Diante da sua criatura, Deus limita sua Presença. Deus preferiu antes deixar que crucificassem o seu Filho a intervir para impedir tal injustiça. Trata-se de uma fraqueza voluntária da parte de Deus.



Deus torna-se fraco porque ama. Quem mais ama faz-se, por assim dizer, sempre mais fraco, pois quem ama "desarma-se" totalmente diante do ser amado. Não será essa a grande característica das mulheres? Elas são consideradas o sexo frágil, mas na verdade mostram sempre uma fortaleza muito maior que a dos homens em relação ao amor. Quase sempre amam mais, e, por isso, sofrem mais. Porém, nessa fraqueza consentida não estará a maior liberdade e a maior fortaleza?


Nessa fraqueza a pessoa vence todo o egoísmo, todo o desejo de prevalecer, toda a preguiça de aceitar maiores desafios. Exige mais de si própria, vai mais longe, além das suas forças. “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (João 15,13). Aí está também a expressão suprema da liberdade.


A fraqueza de Deus vai até a ponto de se tornar suplicante: “Eis que estou batendo na porta: se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei na sua casa e cearei com ele e ele comigo (Apocalipse 3,20).


Deus bate na porta e aguarda. Se não é atendido, afasta-se e continua o caminho. Somente entra se é convidado. Depende do convite da pessoa. Deus torna-se pedinte, suplicante.


Deus é sempre liberdade que liberta e respeita. Nunca constrange a abraçarmos sua Pessoa, impondo sua realidade Divina diante de nossa ínfima condição humana.É um Deus que se faz criança indefesa, pobre carpinteiro, nu e crucificado, e depois simples Pão na Eucaristia. 
Como entender tudo isso vindo de um Deus Onipotente e Eterno? Somente pelo incalculável amor pelo que Ele nos tem. Dizia Santa Teresinha: "É próprio do Amor abaixar-se, doar-se por inteiro, até o fim".É próprio do autêntico amor se dar até às últimas conseqüências, ao extremo (Jo 13,1).Mesmo que esse amor corra o risco de não ser acolhido e venha a ser rejeitado, ele ama até o fim.

E próprio o Amor Infinito que, abaixando-se sobre a criatura, preenche todas a distâncias e todas as obras, salvo a única obra que somente a criatura pode realizar, e que, de nossa parte, é a maior manifestação de nossa liberdade colocada nas mãos de Deus: O abandono total.


Não pode o homem condicionar a Misericórdia de Deus, nem através de suas obras nem virtudes,ou muito menos impedindo-a com seus pecados, mas é o Deus livre e misericordioso, na sua mesma natureza, que se abaixa sobre o nosso nada para nos soerguer. 
Esse abaixar-se de Deus é a maior manifestação de seu extremo respeito a nossa liberdade. Fazendo-se fraco e descendo a nossa condição, Deus manifesta que não quer competir com o homem, mas elevá-lo ao ponto de Seu Amor.


Deus o fez livre, e hoje, esse Deus o convida a aceita-lo, não o forçando, mas o convidando em sua liberdade. Ele o chama, o espera!E você, qual a sua resposta?

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