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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A REVELAÇÃO DE DEUS COMO AMOR



Deus revelou-Se no Antigo Testamento como o Ser por excelência: “Eu sou Aquele que sou” (Ex 3,14); e no Novo Testamento revelou a natureza profunda e intrínseca do Seu ser: “Deus é amor” (1Jo 4,16).

 

Deus é amor na sua vida íntima e, porque é amor, é também Trindade, Comunhão de Amor: é Pai, porque gera o Filho e Lhe confere toda a Sua natureza e vida divina; é Filho porque se dá totalmente ao Pai; é Espírito Santo, porque procede do amor e do dom recíproco entre o Pai e o Filho. Deus é também amor fora de Si, nas Suas obras: é amor na criação de todos os seres que livremente chama à vida, e, sobretudo, na criação do homem que fez à Sua imagem e semelhança (Gn 1,26). 


 

Mas Deus manifesta mais o Seu amor, quando eleva o homem do seu estado de simples criatura ao estado de Seu filho: “Vede com que amor nos amou o Pai, ao querer que fossemos chamados filhos de Deus. E, de fato, somo-lo” (1Jo 3,1). Não se trata, pois, de um título honorífico ou simbólico, de “uma maneira de falar”, mas de uma realidade sublime, de uma nova “maneira de ser”, por meio da qual o homem é profundamente transformado e feito participante da natureza e da vida de Deus, isto é, do ser de Deus que é amor. 

 

O homem entra assim, a fazer parte da família de Deus: é amado por Deus, seu Pai, e é, por sua vez, capaz de amá-Lo como filho, porque Deus infundiu nele o Seu amor. “Vós não recebestes um espírito de escravidão – exclama S. Paulo - recebestes, pelo contrário, um espírito de adoção, pelo qual chamamos: Abba, Pai.O próprio Espírito atesta em união com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rom 8, 15-16). 

 

“Deus é amor” (1 Jo 4, 8. 16). Deus é Comunhão. É Comunidade perfeita. Deus vive em si mesmo um mistério de comunhão pessoal de amor.

 
Ao criar o ser humano à sua imagem e semelhança, Deus inscreveu no homem e na mulher a vocação e, ao mesmo tempo, a capacidade e a responsabilidade do amor e da comunhão. Somos criados para amar e viver em comunhão. O amor é, portanto, a fundamental e originária vocação do ser humano. Quem não vive em comunhão com outras pessoas acaba sozinho. 


O fechar-se em si mesmo é o que há de mais contrário ao bem do ser humano, porque não leva à sua realização pessoal nem à maturidade. A pessoa humana torna-se mais humana e cristã, na medida em que se abre aos outros, encontra neles a sua felicidade, ultrapassa o egoísmo.

Portanto, o homem não pode viver sem amor. Ele permanece para si próprio um ser incompreensível, e a sua vida é destituída de sentido se não lhe for revelado o amor, se ele não se encontra com o amor, se não experimenta e se não o torna algo seu próprio, se nele não participa vivamente.

 
Chamados à existência por amor, somos chamados ao mesmo tempo ao amor. Todos nós precisamos e dependemos uns dos outros. Quem de nós não sente necessidade de ser acolhido, ajudado, perdoado, estimado, amado? Quem não precisa de um ponto de referência seguro, de incentivo, de alguém a quem recorrer em situações difíceis?

 

O ser humano que quiser compreender-se a si mesmo deve, com sua inquietude, incertezas e fraquezas, em primeiro lugar, aproximar-se de Cristo, pois Ele revela em Si a plenitude de Deus e também a plenitude do homem.
Deus sabia o que ele estava fazendo desde o início ao nos criar. Ele decidiu desde o princípio modelar as vidas daqueles que O amavam com as mesmas linhas da vida de Seu Filho. Nós vemos Nele a forma original planejada para nossas vidas. Rm 8,29.

“Pelo Amor, Deus revelou a forma – infalível, perfeita e definitiva – como quer ser conhecido” (Paulo VI, Eclesiam suam), 


O AMOR DE DEUS ENCARNADO NA CARIDADE FRATERNA


“Deus é Amor e quem permanece no Amor, permanece em Deus e Deus nele” (1Jo 4,16). Ora Deus difundiu a Seu Amor nos nossos corações, por meio do Espírito Santo que nos foi dado. Sendo assim, o primeiro e mais necessário dom é a caridade com que amamos Deus sobre todas as coisas e ao próximo por amor d’Ele.

A virtude da caridade é a participação criada no amor infinito, por meio do qual Deus Se ama a Si mesmo, ou seja, participação do amor com que o Pai ama o Filho, e o Filho ama o Pai e ambos Se amam no Espírito Santo. Pela caridade, o cristão é chamado a “permanecer em Deus” (1Jo 4,16) e a entrar no círculo do amor eterno que une entre Si as três Pessoas da Santíssima Trindade. 


 
Se a Fé, ao tornar o homem participante do conhecimento que Deus tem de Si próprio, o introduz na intimidade da vida divina, a esperança garante-lhe que partilhará um dia da felicidade eterna. 

Mas, a caridade vai mais longe, porque o enxerta já nesta vida, no inefável movimento de amor que é a vida da Santíssima Trindade. Por meio da caridade, o cristão mora em Deus, a ponto de ficar associado ao amor do Pai para com o Filho e do Filho para com o Pai, amando o Pai e o Filho no Espírito Santo.

 

E, como o amor divino não fica encerrado no seio da Trindade, mas derrama-se d’Ela sobre todos os homens, também a caridade imprime um impulso semelhante ao cristão, abrindo o seu coração ao amor de todos os irmãos. Somente por meio da caridade, que o faz participante do amor de Deus, é que o cristão se torna capaz de “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo por amor de Deus”.

A caridade só é completa quando sobe a Deus, abrangendo por Ele e n’Ele todas as criaturas. Em Deus o amor é um só: na Sua vida íntima e nas suas relações com os homens, no cristão a caridade é única e indivisível: no seu relacionamento para com Deus e no seu impulso para com os irmãos. “D’Ele temos este Mandamento: Quem ama a Deus, ama também o seu irmão” (1Jo 4,21)

 

“Deus é amor” (1Jo 4,16), amor eterno, infinito e substancial. Como tudo o que há em Deus é belo, bom, perfeito e santo, assim tudo o que há em Deus é amor: a Sua formosura, a Sua santidade, a Sua sabedoria, a Sua verdade, a Sua onipotência e até a Sua justiça são amor. O amor em Deus é um ato externo da Sua vontade, ato perfeitíssimo e santo, porque está sempre dirigido ao bem supremo; este é o amor com que Deus se ama a Si mesmo, porque Ele é o único Bem, sumo e eterno, ao qual nenhum outro bem pode ser preferido.

O amor santo e infinito que Deus se tem a si mesmo, nada tem a ver com o egoísmo do homem, pelo qual se ama com afeto desordenado, a ponto de se preferir a Deus. O homem é egoísta porque tende a amar-se a si mesmo, excluindo qualquer outro afeto; Deus, porém, está de tal maneira isento de toda a sombra de egoísmo que, embora amando-Se infinitamente e estando totalmente enamorado da Sua bondade infinita, quer difundir também o Seu amor e a Sua bondade.

 

É assim que Deus ama as criaturas; o Seu amor está na raiz de cada uma delas porque, ao amá-las, chama-as à existência e cria nelas o bem. “O amor de Deus – diz S.Tomás – infunde e cria a bondade nas coisas” (S.T.1,20,2). Deus ama com um amor totalmente gratuito, livre e sumamente puro, com um amor que é simultaneamente, benevolência, porque quer o bem da criatura e beneficência, porque opera esse bem.

Deus ao amar o homem, dá-lhe vida, infunde-lhe a graça, convida-o à santidade, atrai-o a Si e torna-o participante da Sua felicidade eterna. Tudo o que somos e temos é Dom do Seu amor imenso. O homem, afirma o Concílio Vaticano II “se existe, é só porque, criado por Deus por amor, é por Ele por amor constantemente conservado; nem pode viver plenamente segundo a verdade, se não reconhecer livremente esse amor e se entregar ao seu Criador” (Gaudium et Spes, 19).

“Amo-te com amor eterno; e por isso te outorguei os Meus favores” (Jer 31,3). O homem ainda não existia e já Deus, que o via, o amava e o queria. O Seu amor adiantou-se a Ele desde a eternidade. Nenhuma criatura poderia existir se Deus não a tivesse precedido com o Seu amor. “Vós amais tudo o que existe e não aborreceis nada do que fizestes, porque se odiásseis alguma coisa, não a teríeis criado. Como poderia subsistir uma coisa, se Vós não o quisésseis, ou, como se conservaria sem ordem Vossa?” (Sab 11,24-25).


 A história do homem é a história do amor de Deus para com ele. História que, uma vez iniciada, não mais termina, porque o amor de Deus não tem fim, somente o pecado, por ser rejeição do amor de Deus, tem a triste possibilidade de a interromper.

Mas, em si mesmo, Deus ama com um amor infinito, eterno, imutável e fidelíssimo. Ele próprio o quis declarar com as mais ternas expressões: “Acaso pode uma mulher esquecer-se do menino que amamenta, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu nunca te esqueceria” (Is 49,15).

Deus ama o homem quando o consola, mas ama-o também quando o prova com a dor: as Suas graças e consolações são amor, mas não são menos os Seus castigos e provações, “porque o Senhor castiga aquele a quem ama e aflige o filho a quem muito estima” (Prov 3,12). 

 
Em qualquer circunstância, por mais triste e dolorosa que seja, o homem está constantemente cercado pelo amor divino, que é sempre desejo do bem e, por isso, quer infalivelmente o seu bem, mesmo quando o conduz pelo áspero e duro caminho do sofrimento. (...) Assim são estes os Seus dons neste mundo. Dá conforme o amor que nos tem: aos que mais ama, dá mais destes dons, àqueles que menos ama, dá menos “(Caminho de perfeição, 32,7). O verdadeiro cristão, mesmo que a dor o desfaça, não vacila na Fé, mas repete:” Nós conhecemos e cremos no amor que Deus nos tem “(1 Jo 4,16)”.

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