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domingo, 21 de junho de 2009
OS ANJOS DA GUARDA
“Eis que eu enviarei o meu anjo,que vá adiante de ti, e te guarde
pelo caminho, e te introduzano lugar que preparei".
(Ex 23, 20-23)
DEUS, no seu amor infinito pelos homens, entregou cada um de nós à guarda e cuidado especial de um anjo, que nos acompanha desde o nascimento até a morte: o Anjo da Guarda.
Essa doutrina foi sempre ensinada pela Igreja ( Cf. Catecismo Romano, Parte IV, cap. IX, n. 4. ) e se baseia em testemunhos da Sagrada Escritura e da Tradição — Santos Padres, Magistério Eclesiástico, Liturgia.
As Escrituras e os Santos Padres
O Antigo Testamento faz contínuas referências a esses anjos que nos servem de protetores. Mais do que nos ensinar explicitamente tal verdade, parece dá-la por suposta em suas narrações.
Jacó ao abençoar seus netos, filhos de José, diz: “Que o anjo que me livrou de todo o mal, abençõe estes meninos” (Gen 48, 16)
Nas palavras seguintes de Deus a Moisés encontramos os múltiplos ofícios que incumbem ao Anjo da Guarda, de proteção e de conselho: “Eis que eu enviarei o meu anjo, que vá adiante de ti, e te guarde pelo caminho, e te introduza no lugar que preparei. Respeita-o, e ouve a sua voz, e vê que não o desprezes; porque ele não te perdoará se pecares, e o meu nome está nele. Se ouvirdes a sua voz, e fizerdes tudo o que te digo, eu serei inimigo dos teus inimigos, e afligirei os que te afligem. E o meu anjo caminhará adiante de ti" (Ex 23,20-23).
Por meio do profeta Baruc, Deus comunica a Israel: “Porque o meu anjo está convosco, e eu mesmo terei cuidado das vossas almas" (Bar 6,6)
O Salmo 90 exprime, com muita poesia, a solicitude de Deus para conosco, por meio do Anjo da Guarda: “O mal não virá sobre ti, e o flagelo não se aproximará da tua tenda. Porque mandou (Deus) os seus anjos em teu favor, que te guardem em todos os teus caminhos. Eles te levarão nas suas mãos, para que o teu pé não tropece em alguma pedra” (SI 90, 10-12).
E outro Salmo proclama: “O anjo do Senhor assenta os seus acampamentos em volta dos que o temem, e os liberta” (SI 33, 8).
Lançado na cova dos leões, por intriga de invejosos, Daniel foi socorrido por um anjo: “O meu Deus enviou o seu anjo, e fechou as bocas dos leões e estes não me fizeram mal algum” (Dan 6, 21).
Fala-se, no Livro dos Reis, de um exército de carros que cercavam o profeta Eliseu (4 Reis 6, 14-17). São Tomás vê aí uma imagem do poder dos Anjos Custódios e a preponderância dos anjos bons sobre os maus.
São inúmeras as passagens do Antigo Testamento que fazem referência à doutrina sobre os Anjos da Guarda. Em nenhuma porém, a solicitude dos anjos para com os homens fica tão patente como no livro de Tobias.[1] E por isso que ele é muito citado sempre que se trata da matéria.
Esse ensinamento se torna mais preciso no Novo Testamento, onde a existência do Anjo da Guarda é confirmada pelo próprio Salvador. Aos seus discípulos, advertindo-os contra os escândalos em relação às crianças, diz: “Vêdes que não desprezeis a um só destes pequeninos, pois eu vos declaro que os seus anjos vêem continuamente a face de meu Pai que está nos céus” (Mt 18, 10). Essas palavras deixam claro que mesmo as crianças pequenas têm seus Anjos Custódios, como também que estes anjos mantém a visão beatífica de Deus ao descer à terra para atender e proteger a seus custodiados.
Também São Paulo se refere ao papel protetor dos anjos em relação aos homens: “Não são eles todos espíritos a serviço de Deus mandados para exercer o ministério a favor dos que devem obter a salvação?” (Heb 1, 14).
Os Santos Padres ensinam desde cedo essa doutrina.
São Basílio (329-379), entre os gregos, afirma: “Que cada qual tenha um anjo para o dirigir, como pedagogo e pastor, é o ensinamento de Moisés” ( Apud Card. J. DANIELOU, Les Anges et leur mission, p. 93. )
E, entre os latinos, São Jerônimo (342-420) assim comenta passagem de São Mateus (18, 10), acima citada, sobre os anjos das crianças: “Isto mostra a grande dignidade das almas, pois cada uma tem, desde o nascimento, um anjo encarregado de sua guarda" (Comm. in Evang. 5. Matth., lib. III, ad cap. XVIII, 10 Apud Card. P. GA5PARRI Catechisme Catholique pour Adultes, p. 346. )
A crença na existência e atuação dos Anjos da Guarda está tão firmemente estabelecida na tradição da Igreja, que desde tempos imemoriais foi instituída uma festa especial em louvor deles (2 de outubro).
O ensinamento dos teólogos
A partir dos dados da Sagrada Escritura e da Tradição, teólogos foram explicitando ao longo dos séculos uma doutrina sólida e coerente sobre os Anjos da Guarda.
O príncipe dos teólogos, São Tomás de Aquino, na sua célebre Suma Teológica, (Suma Teológico, 1,q. 113.) expõe largamente essa doutrina.
O santo Doutor justifica a existência dos Anjos da Guarda pelo princípio de que Deus governa as coisas inferiores e variáveis por meio das superiores e invariáveis. O homem não só é inferior ao anjo, mais ainda está sujeito a instabilidades e variações por causa fraquesa de seu conhecimento, das paixões, etc. Assim, ele é governado e amparado pelos anjos, que servem como instrumentos da providência especial de Deus para com os homens.
A função principal do Anjo da Guarda é iluminar-nos em relação a verdade, à boa doutrina; mas sua custódia tem também muitos efeitos, tais como reprimir os demônios e impedir que nos sejam causados outros danos espirituais ou corporais.
Cada homem tem um anjo especialmente encarregado de guardá-lo, distinto do das coletividades humanas de que façam parte. Estas têm anjos especiais para custodiá-las; enquanto os anjos dos indivíduos pertencem ao último coro angélico, o das coletividades ou instituições podem fazer parte dos coros e hierarquias superiores.
Como há vários títulos pelos quais um homem necessita ser especialmente protegido (ou seja, considerado enquanto particular ou como ocupando um cargo ou função na Igreja a ou na sociedade), um mesmo homem pode ter vários anjos para custodiá-lo.
A Virgem Santíssima, Rainha dos Anjos, teve também não um, mas os Anjos da Guarda. Enquanto homem, Jesus teve Anjos da Guarda; não evidentemente para protegê-Lo, pois o inferior não guarda o superior, mas para servi-Lo.
Mesmo os infiéis têm Anjos da Guarda e até o Anti-Cristo o terá.
O Anjo da Guarda nunca abandonará o homem, mesmo após a morte, se ele for para o Paraíso, pois a custódia angélica é parte da providência especial de Deus para com o homem, o qual jamais estará totalmente privado da providência divina.
Embora estejam normalmente no Céu, contemplando a Deus, os Anjos da Guarda conhecem tudo o que se passa na terra com seus protegidos; podem, então, quase imediatamente, passar de um lugar ao outro para protegê-los ou influenciá-los beneficamente.
Santo Agostinho pergunta: “Como podem os anjos estar longe, quando nos foram dados por Deus para ajudar-nos?” E responde:
“Eles não se apartam de nós, embora aquele que é assaltado pelas tentações pense que estão longe”. (Apud A. J. MacINTYRE, Os anjos, urna realidade admirável p. 321. )
Os Anjos Custódios nunca estão em oposição ou divergência real entre si. O relato bíblico da luta entre o anjo da Pérsia e o anjo Protetor dos Judeus (cf. Dan 10, 13-21) em que o primeiro queria reter os hebreus na Babilônia e o segundo desejava conduzi-los de volta à sua pátria encontra a seguinte explicação: às vezes Deus não revela aos anjos os méritos ou os deméritos das diversas nações ou indivíduos que eles custodiam. Enquanto não conhecem com certeza a vontade divina, os Anjos da Guarda procuram, santamente, proteger de todas as formas os que estão sob a sua proteção, mesmo contrariando os desejos de outros Anjos Custódios. Mas logo que a vontade de Deus fica clara para eles, todos se submetem pressurosos, pois o que desejam sempre é fazer a vontade divina.
Do mesmo modo que os homens, também as instituições, os povos e os países contam com um anjo especialmente encarregado de velar por eles.
Essa doutrina tem base nas palavras da Sagrada Escritura, onde é dito que um anjo conduzia o povo judeu pelo deserto (Ex 23,20), e também na passagem já referida sobre a luta entre o anjo dos Judeus e o anjo dos Persas (Dan 10, 13-21).
É também o que ensina São Basílio: “Entre os anjos, uns são prepostos às nações; os outros são companheiros dos fiéis”. ( Apud Card. J. DANIELOU, Les Anges et leur Mission, p. 93. )
São Miguel Arcanjo era o protetor de Israel enquanto povo eleito (Dan 10, 13-21); atualmente ele é o protetor do novo povo de eleição, a Igreja. As aparições de Nossa Senhora em Fátima. foram precedidas pela do Anjo de Portugal.
Efeitos da custódia dos anjos
Os efeitos da custódia dos anjos são, uns corporais, outros espirituais, ordenados, uns e outros, à salvação eterna do homem.
Os efeitos são corporais, na medida em que impedem ou livram dos perigos ou males do corpo, ou auxiliam os homens nas questões materiais, conforme consta no livro de Tobias (cap. 5 e seguintes).
E são espirituais, sempre que os anjos nos defendem contra os demônios (Tob 8, 3); rezam por nós e oferecem nossas preces a Deus, tornando-as mais eficazes pelas sua intercessão (Apoc 8, 3; 12); nos sugerem bons pensamentos, incitando-nos assim a fazer o bem (At 8, 26; 10, 3ss),[2] por meio de estímulos da imaginação ou do apetite sensitivo; do mesmo modo, quando nos infligem penas medicinais para nos corrigir (2 Reis 24, 16); ou ainda, na hora da morte, fortalecem-nos contra o demônio; os anjos conduzem diretamente para o Céu as almas daqueles que morrem sem precisar passar pelo Purgatório, e levam para o Paraíso as almas que já passaram pela purgação necessária; eles também visitam as almas do Purgatório para as consolar e fortalecer, esclarecendo-as glória do céu, etc.
A custódia dos anjos nos livra de inúmeros perigos tanto para a alma como para o corpo. Entretanto, ela não nos livra de todas as cruzes e sofrimentos desta vida, que Deus nos manda para nossa provação e purificação; nem daquelas tentações que Deus permite para que mostremos nossa fidelidade. Porém eles sempre nos ajudam a tudo suportar com paciência e vencer com perseverança.
Às vezes parece que os anjos não nos estão atendendo; é preciso então rezar com mais insistência até que esse socorro se perceba. Mas pode ocorrer de não sermos ouvidos, não porque faltem aos anjos poder ou desejo de nos ajudar, mas é que aquilo que estamos pedindo não é o melhor para a nossa eterna salvação, que é o que antes de tudo eles procuram.
Nossos deveres em relação aos Santos Anjos Custódio
São Bernardo resume assim nossos deveres em relação aos nossos Anjos da Guarda:
a. Respeito pela sua presença. Devemos evitar tudo o que pode contristar um espírito assim puro e santo. Sobretudo, evitar o pecado.
“Como te atreverias — interpela o santo Doutor — a fazer na presença dos anjos aquilo que não farias estando eu diante de ti?"
b. Confiança na sua proteção. Sendo tão poderoso e estando continuamente diante de Deus, e ao mesmo tempo conhecendo as nossas necessidades, como não confiar na sua proteção? A melhor maneira de provar essa confiança é recorrer a ele pela oração nos momentos difíceis, especialmente nas tentações.
c. Amor e reconhecimento por sua proteção. Devemos amá-lo como a um benfeitor, um amigo e um irmão, e ser agradecidos pela sua proteção diligentíssima.
“Sejamos, pois, devotos” — escreve o mesmo São Bernardo. “Sejamos agradecidos a guardiões tão dignos de apreço, correspondamos a seu amor, honremos-lhe quanto possamos e quanto devemos!” ( Apud Jesus VALBUENA O.P., Tratado del Gobierno del Mundo — Introducciones, p. 930. )
A oração por excelência para invocar e honrar o Anjo da Guarda da é o Santo anjo do Senhor:
“Santo anjo do Senhor, meu zeloso guardador, já que a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, guarda, governa e ilumina".
[1] Este livro da Sagrada Escritura é todo ele rico de ensinamentos sobre esta doutrina, de maneira que não basta transcrever aqui uma ou outra passagem dele; assim, convida-mos o leitor a lê-lo diretamente na Bíblia.
[2] Há vários exemplos disso na Sagrada Escritura: Os Atos dos Apóstolos relatam a aparição de um anjo ao Centurião Cornélio, homem religi oso e temente a Deus, para instruí-lo sobre como proceder para conhecer a verdadeira religião: "Este (Cornélio) viu claramente numa visão. quase à noa, que um anjo de Deus se apresentava diante dele, e lhe dizia: Cornélio ... as tuas ora ções e as tuas esmolas subiram como memorial à presença de Deus. E agora envia homens a Jope a cham ar um certo Simão que tem por sobrenome Pedro ... ele te dirá o que deves fazer" (At 10, 1-6). E nos mesmos Atos se lê como um anjo inspira São Filipe Diácono a desviar-se de seu caminho, para fazê-lo encontrar-se com o ministro da Rainha Candace, da Et iópia, e batizá-lo, depois de instruí-lo na doutrina cristã (At 8, 26)
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