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sexta-feira, 27 de abril de 2012

Um estudo sobre o perdão à luz da Misericórdia Divina





O perdão é a expressão máxima da Misericórdia de Deus. Ele é a força capaz de fazer com que se restabeleça a união entre Deus e o pecador - tanto pessoal como comunitariamente - readmitindo-o na sua comunhão vital. Precisamente na graça do perdão, o Deus "zeloso"(Ex 20,5) se mostra um Deus MISERICORDIOSO. 

Mesmo com as constantes rupturas da aliança, devido as infidelidades e traições do Povo (Ex 32,30-32), o Senhor não abandona Israel, mas se faz conhecer mais intimamente como Deus "de ternura e de piedade, lento para a cólera, rico em amor e fidelidade"... (Ex 34,6).



Realmente, no decurso de sua história, Israel, tanto em momentos de desgraça como ao tomar consciência do próprio pecado, continuamente se entregou confiantemente ao Deus das misericórdias. Na misericórdia do Senhor para com o seu Povo manifestam-se todos os matizes do AMOR: Infinito, Imutável, Fiel,Constante, Misericordioso...


Em Jesus a revelação da misericórdia divina chega a seu ponto culminante: O Pai revelado por Cristo é um Deus cuja alegria consiste em perdoar (Lc 15,1-31) e não quer que nenhum dos seus filhos se percam (Mt 18, 12-14).

Deus está sempre pronto a perdoar! Ele não se prende a emoções, ou muito menos pensa em Si para sentir-se ofendido a ponto de fechar-se ao perdão. Ele sempre é ABERTURA, e por isso, perdão absoluto.Mas para que esse perdão se plenifique, Deus nos coloca uma condição para recebermos esse perdão, a condição de que o pecador queira também abrir-se ao perdão e aceitar a proposta de vida nova (Lc 18,13), fruto da reconciliação, e perdoar seu semelhante.



Na postagem anterior estudamos a profunda teologia contida na oração do Pai-Nosso. Nele, a petição pelo perdão contém dois elementos: de um lado, pedimos ao Pai Misericordioso a graça de seu perdão; de outro, expressamos nossa disposição a perdoar as culpas alheias.


Há uma íntima correlação entre o perdão recebido de Deus e o perdão concedido ao próximo. No amor que o discípulo do Senhor manifesta para com o seu irmão que "está em dívida" com ele, está o testemunho autêntico do amor que ele mesmo recebeu de Deus, quando seus pecados foram perdoados: "Perdoai e vos será perdoado" diz Jesus (Lc 6,37). Assim, o entrelaçamento dos dois perdões, o Divino e o humano, dá-nos a garantia certeira de que o Pai nos perdoará sempre, desde que nós estejamos dispostos a conceder o perdão ao próximo.

O Senhor o confirma inequivocadamente:" Com a medida com que medirdes sereis medidos" (Mt 7,2) e esta deve ser - seguindo o exemplo de nosso Pai misericordioso - "uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante" (Lc 6,38). 

A parábola do "devedor implacável" (Mt 18,23-35) esclarece essa lógica evangélica: o perdão solicitado a Deus não se concretiza com a recusa do perdão ao nosso semelhante. Ambos são intrinsecamente associados, de modo que o Senhor pôde ensinar que o amor a Deus e ao próximo se identificam (Mt 22,39). São Paulo o diz categoricamente: "...como o Senhor vos perdoou, assim também fazei vós" (Cl 3,13). Em outra epístola diz: "Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros como também Deus, em Cristo, vos perdoou" (Ef, 4, 32).




O perdão recebido do Pai deve dispor o discípulo a perdoar seu próximo, sendo precisamente este a autenticação prática do perdão recebido de Deus. Assim, o perdão divino não é condicionado pelo perdão humano, mas a súplica a Deus seria hipócrita se não nascesse de um coração pronto a perdoar seu irmão.


O perdão do Alto, inteiramente gratuito, desinteressado e total, se faz, efetivamente, fonte e modelo do perdão que se dá aos outros. Perdoar o irmão - movido por misericórdia- torna-se um indicador seguro da eficácia da Graça que o perdão de Deus operou em nós.


 Sem o perdão sincera e generosamente oferecido aos irmãos, nenhuma fraternidade se constrói e, menos ainda, subsiste. O perdão constitui o coração vivo de uma comunidade cristã, que se reconhece como "comunidade de Jesus": O perdão de Deus restabelece a comunhão vertical para o Alto; o perdão que damos aos que nos tem ofendido conserta a comunhão horizontal, para com os irmãos.




Não há limites para o perdão cristão. Assim o faz entender o evangelista Mateus no contexto literário que precede sua redação do Pai-Nosso: 


" Ouviste o que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu porém, vos digo: não resistais ao homem mau; antes, àquele que te fere na face direita, oferece-lhe também a esquerda; e àquele que quer pleitear contigo para tomar-te a túnica, deixa-lhe também a veste; e se alguém te obriga a andar uma milha, caminha com ele duas. " (Mt 5, 38-41).E conclui: "...amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; deste modo vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque Ele faz nascer o Sol  igualmente sobre os maus e os bons e cair a chuva sobre os justos e sobre os injustos. Com efeito se amais aos que aos que vos amam que recompensa tereis?Não fazem também os publicanos a mesma coisas? E se saudais apenas os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem também os gentios a mesma coisa?Portanto, deveis ser perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito" (Mt, 5, 44-48)


Podemos perguntar quem tem a ousadia de nos deixar esta recomendação, este mandamento. Quem, nos conhecendo minimamente, nos recomenda que amemos os nossos inimigos, quando já é tão difícil perdoar qualquer coisa que nos ofenda?

Olhando com lucidez para este mandamento e a sua exigência não podemos deixar de assumir que de fato só Cristo nos podia deixar este preceito, só aquele que inocentemente foi crucificado, o verdadeiro inocente, é que tinha o direito de nos deixar esta recomendação.


E isto porque também só ele teve o conhecimento profundo e total de como o perdão até ao limite último do amor é libertador, só ele sabe o quanto o homem é capaz de realizar no caminho do bem, só ele conhece na maior profundidade e verdade a grandeza do homem e a potencialidade de santidade que o habita.

Como verdadeiro Deus e verdadeiro Homem esse conhecimento é pleno e total.
E por isso o mandamento não é nada de exorbitante, de impossível, bem pelo contrário, é mais um meio colocado ao serviço do homem para avançar na semelhança com Deus, com o seu Criador e Salvador.
 
Filhos adotivos, pela graça obtida por Jesus, somos chamados a viver essa radicalidade divina, a fazer essa experiência de nos aproximarmos cada vez mais da perfeição do Pai que perdoou os pecados dos homens através da entrega do seu Filho bem amado, somos convidados a assemelhar-nos cada vez mais ao Pai.


Um Pai que apesar das nossas fragilidades e infidelidades acredita que somos capazes acredita em nós até ao ponto de nos propor o aparentemente impossível, ainda que possível para aqueles que amam como o Pai.

Cabe-nos assim, a cada um de nós, procurar não decepcionar esta confiança e fé que o Pai coloca em nós através desta proposta radical de Jesus.


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