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terça-feira, 29 de outubro de 2013

O "SILÊNCIO" DE DEUS: Por quê muitas vezes Ele se cala em nossa dor?


Somos seres sociáveis,por isso precisamos nos comunicar. Nossa comunicação se baseia em sua maior parte em sons que emitimos e que chamamos de fala. Através dela manifestamos alegria, raiva, dor, saudade... Quando estamos diante de alguém esperamos que esse tipo de som seja emitido para nos revelar o que o outro está sentindo diante de nossa presença. Por isso o silêncio muitas vezes produz em nós sentimento de insegurança,frustração,desconfiança e inquietação. 



Um grande exemplo disso é um casal discutindo, uma mulher não suporta o silêncio do marido,que acha que é melhor ficar quieto para não brigarem mais, porém esta mulher quer falar,e discutir a relação, causando com seu palavreado muito mais problemas. Ou mesmo quando estamos em casa sozinhos e não suportamos o silêncio e logo ligamos a tv ou o som no volume máximo. BARULHO...estamos sempre cercados de barulho, e queremos que Deus seja barulhento também.




Por isso, sentimos um grande desconforto interior quando não percebemos mais a voz de Deus em nosso coração. O aparente silêncio Divino,digo aparente porque na verdade Deus está sempre falando,ainda que não seja por palavras, pois as suas Obras criadas falam por Ele,conforme lemos em Sl 19,1 e Rm 1,18-20.






Para avaliarmos a questão do silêncio de Deus, precisamos entender um pouco como se dá a comunicação de Deus conosco, que podemos chamar de revelação de Deus. Existem dois tipos de revelação de Deus:




1- Revelação Geral ou Histórica: É a que se dá através da revelação que o Senhor dá de si mesmo por meio de sua Palavra e do seu Filho Jesus, a Criação,e a própria história do povo de Israel e das civilizações.Por isso podemos dizer também que Ele não se cala,suas obras falam conosco. 


-Revelação especial ou particular: Que se dá através dos dons concedidos a nós no batismo, da experiência com a Palavra de Deus, de sentimentos e pensamentos em nosso interior chamados por santo Inácio de moções, bem como de sinais. Algumas vezes, Deus comunica-se por meio de dons extraordinários como visões, êxtases, locuções, como aconteceram na vida de muitos santos e santas na história da Igreja.


Entretanto, enfrentamos em muitos momentos em nossa vida espiritual o aparente silêncio de Deus quando não encontramos respostas satisfatórias as nossas indagações. Existem três circunstâncias que podem nos levar a enfrentar o aparente silêncio de Deus em nossas vidas:


1-Rebeldia deliberada: 

A desobediência constante e a vida entregue a prática do pecado cerra os nossos ouvidos e endurece os nossos corações, tornando-nos insensíveis ao Espírito. Por isso, não é a toa que a Palavra do Senhor nos exorta dizendo "que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz a Igreja". 

                               

Há momentos que Deus pára de falar e nos deixa colher as consequências dos nossos próprios atos,deixando que estas consequências dolorosas nos falem por Ele (Gl 6, 9). Infelizmente a maioria das pessoas só aprendem com o sofrimento,com a dor, e é o fundo do poço, na maioria das vezes, a oportunidade final que Deus encontra para nos falar de seu amor.


Não é Deus o causador de nosso sofrimento, não é Ele a nos castigar e a dizer "bem feito! Bem que Eu avisei!". Não, de jeito nenhum!!! Mas quando Ele permite que arquemos com o peso dos nossos próprios maus atos, Ele nos estende a mão e faz com que a dor se transforme em pedras jogadas por Ele em nossas janelas, como que dizendo:"- Acorda, meu filho! Pára com isso,se arrependa e converta!"


A nossa consciência pode se acostumar com o erro e ficar cauterizada,como calejada para assumir os erros e pecados(1Tm 4,2) (Ef 5,14). Deus age assim com justiça, e isso não o torna um Deus ruim. Muito pelo contrário! O exercício de seu juízo é a manifestação da sua justiça,que é uma faceta também do seu caráter que é Amor,e estes não podem de forma alguma serem separados,pois estão intrínsecos em sua Divindade.


Jesus, na Cruz, sentiu-se desamparado e abandonado pelo Pai.(Mt 27,46) Ali, Ele estava levando todo o nosso pecado (Is 53)(Is 59 1-2),e o pecado faz com que Deus Pai esconda o seu rosto de nós. Por isso, Jesus experimentou essa terrível experiencia que é salário do pecado, de ver-se apartado do Pai. 



Sentimo-nos, então, vazios e angustiados ao provarmos a amargura dos nossos erros, porque experimentamos onde as consequências de nossos atos nos levaram: Ao fechamento em nós mesmos, a vermos os outros como adversários e Deus como nosso pior inimigo. Ou seja, ficamos sós e morremos espiritualmente.


Deus permite isso para que caiamos em nós mesmos, e vejamos com nossos próprios olhos que não podemos viver longe de suas Palavras, que são vida e felicidade. Não se esqueça que o vazio,a insatisfação da vida, e a tristeza muitas vezes são situações que nos levam ao arrependimento sincero e profundo,que produz em nós humildade,mudança e compromisso com Deus(2 Cor 7,10)(Hb 12,4,11)(Jo 6,68).

2-Insistência naquilo que já sabemos a resposta:

Rezamos buscando a resposta de Deus,porém já temos a resposta ,só queremos que Deus "confirme" a nossa escolha.Por isso é inútil descobrirmos a vontade e a direção do Senhor se nós não estivermos dispostos a seguir e obedecer(Nm 22,19).


As vezes Deus até já nos falou, nos deu sinais, indicou o caminho a seguir, mas como a Vontade de Deus contraria nossos interesses egoístas ficamos pedindo que Ele fale novamente, como para que Ele mude de opinião. Mas a Palavra de Deus é imutável, porque Ele é o Amor eterno, e não amor humano, mutável, inconstante.Deus não muda, Ele é sempre o mesmo, ontem, hoje e sempre.


Não foi em vão que Jesus nos ensinou a orar para que a vontade de Deus seja feita aqui na terra como é feita no céu (Mt 6,10).Deus não nos obriga a obedecê-lo,pois esta nossa obediência deve ser espontânea e voluntária, senão não pode gerar amor em nós para com Ele.


Foi o que o próprio Jesus aprendeu e também nos ensinou no jardim do Getsemâni,quando pediu a Deus que afastasse Dele o cálice,entretanto Deus Pai permaneceu calado,porém enviou o anjo para que confortasse seu Filho na agonia e angustia que antecedia a crucificação(Lc 22, 39-46).


3-Provação e purificação:



Não entendemos porque Ele permite que passemos por tantos problemas e situações contrárias se Ele é amor e bondade. Jesus na cruz gritou e perguntou "...Deus meu,Deus meu porque me abandonastes..." (Mt 27,46).


Os discípulos também experimentaram esse aparente silêncio de indiferença e tiveram a impressão de que Jesus não se importava com eles quando enfrentavam a tempestade e o barco se enchia de água e quase naufragava (Mt 8).


Jesus os estava ensinando, através do seu silêncio que cristianismo não é viver isento das mazelas da vida ,envoltos numa redoma de vidro blindado,sem enfrentar nenhum problema, como também aprendemos em (Jo 16,33) (Rm 5, 3-5) (Rm 8, 18-28;31-38) (2 Cor 4, 16-18).



.Existem momentos em nossa vida espirital que precisamos aceitar este silêncio divino. As noites escuras firmam nosso coração na decisão por Deus, fazendo-nos amá-Lo não pelas emoções que Ele nos concede, mas por Ele mesmo.


Enquanto o mundo grita desesperado, e os rumores atordoam as multidões, cabe espaço em nós para o silêncio, pois somente através dele, nos calando, é que podemos escutar a voz de Deus. O Espírito Santo não atua na balbúrdia  na confusão, na gritaria e sim no silêncio dos corações.


A vida interior poderia consistir só nesta palavra: Silêncio! O silêncio prepara os santos; ele os começa, os continua e os acaba. Deus, que é eterno, não diz mais que uma só palavra, que é o Verbo. Do mesmo modo, seria desejável que todas as nossas palavras digam Jesus direta ou indiretamente. E nada melhor para falar de Jesus do que esta palavra:O SILÊNCIO!


No começo Deus dizia à alma: “Fala pouco com as criaturas e muito comigo" Depois, quando a alma alcança a perfeita contemplação Deus lhe diz; "Cale-se, fique em silêncio, escute somente minha voz que te fala no deserto do teu coração".


 O silêncio diante de Deus é adoração e pura adesão a sua Palavra. Como escrevia a Beata Elisabete da Trindade; "Ó Verbo Eterno, Jesus, Palavra de meu Deus, quero passar minha vida a escutar-Vos. Quero ser de uma docilidade absoluta para tudo aprender de Vós. E depois, através de todas as noites, de todos os vazios, de todas as impotências, quero ter sempre os olhos fixos em vós e ficar sob vossa grande luz; ó meu astro Amado, fascinai-me a fim de que não me seja possível sair de vossa irradiação."



Calar é apresentar-se diante de Deus vazio, pobre, dócil e expor-se diante de Deus, oferecer-se a Ele, aniquilar-se diante dEle, adorá-lo, amá-lo, escutá-lo, ouvi-lo, descansar nEle. É o silêncio da eternidade, é a união da alma com Deus.



Quando você estiver sofrendo e Deus parecer calado, lembre-se: Deus não se esqueceu de você. Se você esta lidando com este aparente silêncio de Deus não desanime,e nunca se esqueça que Deus tem três propósitos na dor e no sofrimento.



-Provar e nos testar.

-Corrigir e nos disciplinar.

-Nos fazer crescer e amadurecer na vida cristã,e desenvolver o caráter de Jesus em nós.





Que Deus te abençoe e fale profundamente ao seu coração, mesmo na dor! Quando a dor te visitar e o silêncio de Deus se fizer, diga do fundo de seu coração, como filhinho amado do Senhor: "Pai, eu não te entendo, mas mesmo assim confio em Ti!"

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